O PRETENDENTE CARENTE
Quando Dadá nasceu, prematuro de sete meses,
a parteira, um tanto quanto assustada, levou-o gentil e apressadamente
até sua mãe com medo que ele fosse bem cedo dessa para melhor. Mesmo
feio de doer, ela abriu um meio sorriso ao ver o recém-nascido aninhado
meigamente em
seus minguados braços, e, um pouco acanhada, disse que ele era lindo.
Sabe como é, amor de mãe é infinito e incondicional. E ponto final!
Como
era de praxe, à época, batizaram a criança ainda nos primeiros dias de
vida. Deram-lhe o pomposo nome de Dagmar Gable. Ocorre que o pai dele
era fã de carteirinha do grande ator norte-americano, desde que
assistira no Cine Rex: E o Vento Levou...
Entretanto, para sorte de todos, este nunca viria a saber de tão despropositada e improvável homenagem.
Na adolescência infernizaram tanto a vida de Dadá, que dava pena de ver tanto deboche e descaso que faziam dele. Por
mais que tentasse, nenhuma garota queria nada com ele. Destarte, o
verbo namorar, infelizmente jamais foi conjugado por ele, tampouco os
seus afins, todos da primeira conjugação. Com os hormônios a mil, ainda assim, ele parecia conseguir superar todos estes achaques dos conhecidos, além dos inúmeros foras que levava da mulherada, e mantinha-se de bom humor perene. Sabe-se lá Deus como!
O mundo girou sem parar e Dadá tornou-se adulto rapidamente. Aí, as
coisas pioraram de vez. Doido por mulher, muito embora não conhecesse
nenhuma a fundo, nos seus quarenta carnavais, não havia uma sequer que
quisesse encarar a sua feiura. Afinal, ele era vesgo, batoré, pançudo,
e, de quebra, gago. De tanto tentar e nada dar certo, resolveu apelar. Certo dia, comprou uma colorida cartolina e mandou fazer um caprichado cartaz, pendurando-o devidamente no pescoço, passando a desfilar, nos finais de semana, pelas ruas centrais de Fortaleza. Nele se lia: SOU O DADÁ. PROCURO MULHER PARA COMPROMISSO SÉRIO. PODE SER LOIRA, RUIVA, NEGRA, AMARELA. A QUE VIER EU TRAÇO. SOU TRABALHADOR, CARINHOSO E HONESTO. INTERESSADAS: FAVOR LIGAR PARA ...........
Uma semana se passou – e nada! Ninguém ligara! Depois de um mês, sem
querer acreditar no que estava acontecendo, Dadá achou que era chegada
a hora de usar a chamada mídia digital. Aí ele lembrou-se que
recentemente havia feito uma inscrição no Facebook e foi lá que postou
este seu apelo veemente e ingênuo para conseguir uma consorte – e
desfrutar, quem sabe, de um romance de contos de fada com direito a
final feliz.
Naquele dia, no primeiro do esquisito post,
sua página na Internet bombou. Foram tantas visitas que evidentemente
ele estranhou o fato. No entanto, é bom que se diga, as pessoas
entravam ali somente para zoarem com
ele, fazendo piadas cabeludas de todos os tipos a seu respeito. Nada de
acesso de mulher séria, como ele urgentemente queria.
Entretanto, acostumado à agruras da vida, ele não desistiu um milímetro
do seu intento. Até por que, convenhamos, já estava passando da hora de
ele brincar com alguma gata. Por isso, toda noite, ao voltar da oficina mecânica onde trabalhava, escarafunchava a não mais poder o bendito Facebook à procura de alguma mensagem positiva. Contudo, todo dia era a mesma aflição: Nada! Nenhum recado ou contato!
Certo dia, porém, ele constatou, bastante eufórico, que havia
finalmente uma resposta à sua solicitação de casamento, na web. O nome
dela era Dulcineia. Pela foto, aparentava uma certa idade que a mulher
finge ostensivamente desconhecer. Ela certamente não era nenhuma
princesa, mas também não era de se jogar fora. Dadá ficou alucinado. De
posse do endereço de sua amada (sim, ele já fazia planos para o gran finale),
rumou para o Parque Manibura. Como morava próximo do Papicu, a
trezentos anos luz de sua pretendente, teve que enfrentar
cavalheirescamente duas conduções. Mas, filosofava ele, qualquer
sacrifício vale a pena se a mulher não for tão feia e se acaso não
tiver a alma pequena.
Ao descer do ônibus, caiu na besteira, na suprema parlemice, de perguntar a dois lords marombeiros que bebericavam num boteco próximo onde ficava a rua tal. Eles se entreolharam e deram uma rápida conferida no Dadá. Psiquiatras nas inúmeras vidas pregressas recentes tascaram um diagnóstico bastante convincente para ele: apalermado, quase doido. Assim,
fingindo-se de bons moços, disseram que o levariam até lá. Pobre do
Dadá! Os meliantes mal deram tempo para ele se aperceber da vexatória
situação em que estava se metendo. Não deu outra! Levou uma surra
daquelas e, para piorar o que já estava muito ruim, os elementos
levaram também os minguados reais que ele tinha na velha carteira,
deixando-o, ali, moído de pancadas, quase morto - e inteiramente liso.
Nesse ínterim, passa o Ronda. Ao verem o Dadá desmaiado, levam-no
incontinenti ao HGF, onde, segundo os médicos, terá que ficar
hospedado, nos seus insalubres corredores, por pelo menos três dias.
Por conta disso, desse infausto acontecimento, aqui fica um singelo aviso ao mulherio interessado em conhecer o Dadá: pela gravidade das escoriações, inclusive com um braço quebrado e um profundo corte na cabeça, ele não poderá tão cedo teclar
com todas vocês, como certamente gostaria. Fiquem de sobreaviso. Logo
que melhorar, ele certamente entrará em contato com todo mundo.
Como
seu porta-voz oficial, agradeço, desde já, imensamente, os bons fluidos
positivos emanados das mulheres solteiras, viúvas e desquitadas, de
todas as cores e credos, que esperam ansiosamente o seu pronto
restabelecimento.
AVELAR SANTOS
esperei um final melhor pro Dadá.
ResponderExcluir