CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

sábado, 4 de abril de 2020

QUEM SOBREVIVER VERÁ UM ANO ESPECIAL

É de conhecimento geral que a suspensão das aulas foi decretada em todos os estabelecimentos de ensino para que houvesse menos circulação de pessoas nas ruas e, assim, menos contaminação por COVID-19. É fato que o tempo é de sacrifícios e espera. Com exceção do presidente da República, ninguém discorda disso. Já que estamos falando sobre prevenção, por que não incluir medidas que visem à eliminação também de um outro vírus, bastante antigo, de difícil cura? Falamos do vírus do conteudismo. O vírus, de contágio fácil e rápido, circula nas escolas, nas residências e nos grupos de whatsapp. Ele se propaga cada vez que alguém diz, por exemplo, “hoje não teve aula, foi só filme” ou, numa reunião, quando um docente bastante preocupado diz "precisamos cumprir o conteúdo”. O desespero de cumprir o conteúdo tem feito diversos colégios, públicos e privados, exigirem de seus professores a produção de material didático para ser enviado aos alunos durante o período de quarentena. Mas as aulas não estão suspensas? Não houve até quem dissesse que estávamos de férias?* Por que temos de produzir? A resposta é simples: nossa visão de educação ainda é conservadora. A forma como a educação à distância (EAD) está sendo implementada pelas redes pública e privada em tempo de pandemia é a prova disso. Não adianta citar Paulo Freire, modificar LDB, criar leis de inclusão cultural e social, falar sobre igualdade, pluralidade, se não conseguimos o básico: entender que educação não é SÓ conteúdo. O Corona vírus está nos dando uma oportunidade única de nos repensarmos enquanto humanidade, isso inclui pensar que tipo de educação queremos no futuro. “É uma pena que o caráter socializante da escola, o que há de informal na experiência que se vive nela (...) seja negligenciado. Fala-se quase exclusivamente do ensino dos conteúdos, ensino lamentavelmente quase sempre entendido como transferência do saber. Creio que uma das razões que explicam esse descaso em torno do que ocorre no espaço-tempo da escola (...) vem sendo uma compreensão estreita do que é educação e do que é aprender”, disse Paulo Freire, para quem “educar exige bom senso”, entre outras coisas. Quando o MEC elege a EAD como saída para que não haja prejuízo aos alunos, ele não só desconsidera a realidade socioeconômica de nosso país como também ignora que “ensinar não é transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Nos últimos dias, visitamos, virtualmente, museus, assistimos a espetáculos de dança, teatro e música clássica. Professores fizeram lives, por livre e espontânea vontade, em seus canais, nas redes sociais, compartilhando diversas informações. Artistas declamaram poemas, cantaram ao vivo nas redes. Livros (tem Paulo Freire!), filmes e músicas foram disponibilizados gratuitamente. Para além do mundo virtual, redescobrimos a oralidade, a culinária, os jogos, o estar em família. Assistimos à dedicação de vários profissionais, à união e à solidariedade entre as nações. Será que isso não é aprendizagem, não é educação? Não somos contra o ensino à distância, muito menos defendemos a ausência de conteúdo escolar. Porém, vivemos um momento delicado, que nos obriga a olhar tudo de outro modo, inclusive nossa forma de educar. Pessoas adoecem a todo momento. Precisamos cuidar de nós e dos que amamos. Isso também é aprendizagem. Obrigar professores a produzirem conteúdo, pressionar alunos a estudarem agora os fará adoecer. Dedique-se ao que lhe faz bem. Se lhe faz bem estudar as matérias da escola, estude, mas por prazer, não é tempo de cobrança. Não se permita contaminar com o vírus conteudista, com o falso heroísmo da EAD, seja humano, seja crítico. Alunos, responsáveis e professores, o ano letivo é corrido, estressante, aproveitemos este mome
nto de forma saudável, não nos cobremos pelo que não nos engrandece. Quando o perigo passar, nos reorganizaremos, tudo vai se encaixar e a maturidade que tivemos para lidar com a situação nos dará orgulho. Vamos aproveitar a travessia para alimentar nosso ser daquilo que realmente nos importa e nos falta. Cada um sabe do que tem fome. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019. Páginas citadas: 142 e 47. * Professores  entendem que a suspensão de aulas não deva significar antecipação de férias. Rejeitamos essa ideia. Ter férias é um direito, deve ser respeitado. A retomada do calendário escolar deve ser acordada, coletivamente, nas assembleias da comunidade escolar tão logo retornemos à normalidade das aulas. Prestamos nossa solidariedade aos colegas da rede pública e privada que, atacados por decisões governamentais e/ou de gerências privadas, têm sido obrigados a produzir material, avaliar alunos e ainda conviver com a ideal ilegal de antecipação de férias. Texto escrito no Facebook do Professor Jonas retrata o momento que estamos vivendo.


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