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CAMOCIM CEARÁ
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)
quarta-feira, 15 de julho de 2020
AMAR O OUTRO COMO A SI MESMO É SER BOM
Precisamente; a desobediência é a raiz de todo o mal.
- E que devo dizer a meus jovens sobre esse ponto?
- Presta atenção: os jovens que tu vês
aqui são os desobedientes, que vão preparando para si próprios tão
lamentável fim. Esses tais e outros que tu crês que foram descansar, à
noite descem a passear no pátio; não fazendo caso das proibições, vão a
lugares perigosos, trepam nos andaimes de obras em construção, pondo em
risco até a própria vida. Alguns, apesar das prescrições do regulamento,
na igreja não estão como devem; em vez de rezarem, pensam em coisas
completamente diversas, constroem na sua mente castelos no ar. Outros
perturbam os companheiros. Há os que procuram posturas cômodas e dormem
durante as sagradas funções. Outros, tu crês que vão à igreja e no
entanto não vão. Ai do que descuida a oração! Quem não reza se condena!
Alguns estão aqui porque, em vez de cantar os cânticos sagrados ou o
ofício da Santíssima Virgem, lêem livros que tratam de tudo menos de
religião, e alguns - o que é muito vergonhoso! - chegam a ler livros
proibidos.
E continuou enumerando várias outras
transgressões que são causa de graves desordens. Quando terminou,
comovido olhei o guia na face; ele também me fitou, e eu lhe disse:
- E todas essas coisas, poderei contá-las a meus jovens?
- Sim, podes dizer a todos eles aquilo de que te recordares.
- E que conselho poderei dar-lhes para que não lhes sucedam tão graves desgraças?
- Insistirás demonstrando como a obediência, mesmo nas menores coisas, a Deus, á Igreja, aos pais e aos superiores, os salvará.
- E que mais?
- Dirás a teus jovens que evitem muito
o ócio, porque essa foi a causa do pecado de Davi. Diz-lhes que estejam
sempre ocupados, porque assim o demônio não terá tempo de assalta-los.
Inclinei a cabeça e prometi. Não mais suportando aquele terror, disse o amigo:
- Agradeço-te a caridade que tiveste comigo, mas rogo-te que me faças sair daqui.
- Vem comigo - disse-me então - e,
encorajando-me, tomou-me pela mão e sustentou-me, porque eu me sentia
extenuado e sem forças. Uma vez saídos da sala, atravessamos rapidamente
o horrível pátio e o largo corredor de entrada; antes de atravessar o
umbral da última porta de bronze, mais uma vez voltou-se para mim e
exclamou:
- Agora que viste os tormentos dos outros, é preciso que tu também experimentes um pouco o Inferno.
- Não! Não! - gritei horrorizado.
Ele insistia e eu recusava sempre.
- Não temas - dizia-me - é só para experimentar; toca nessa muralha.
Eu não tinha coragem e queria afastar-me; mas ele me segurou, dizendo-me:
- No entanto, é necessário que experimentes!
E me agarrou resolutamente pelo braço e me levou para junto da muralha, dizendo:
- Toca rapidamente uma vez só, para
que possas dizer que estiveste visitando as muralhas dos suplícios
eternos e as tocaste; e também para que compreendas como será a última
muralha, se a primeira já é tão terrível. Vês esta muralha?
Observei-a com mais atenção; era de colossal espessura. O guia prosseguiu:
- Esta é a milésima parede antes de
chegar ao verdadeiro fogo do inferno. Mil muralhas o rodeiam. Cada uma
delas tem mil medidas de espessura, e essa é a distância entre cada uma
delas; cada medida é de mil milhas; esta muralha dista, pois, um milhão
de milhas do verdadeiro fogo do Inferno e, portanto, é um pequeníssimo
princípio do mesmo Inferno.
Dito isso, e vendo que eu me encolhia
para não tocar a muralha, agarrou minha mão, abriu-a com força e fez com
que eu a encostasse na pedra daquela milésima muralha. Naquele instante
senti uma queimadura tão intensa e dolorosa que, saltando para trás e
dando um fortíssimo grito, acordei.
Encontrei-me sentado na cama, e
sentindo que a mão ardia, esfregava-a na outra mão para fazer cessar
aquela sensação. Quando amanheceu, observei que a mão estava realmente
inchada; e a impressão imaginária daquele fogo foi tão forte que pouco
depois a pele da palma da mão se desprendeu e mudou.
Tende em consideração que não vos
contei estas coisas com todo o seu horror tal como as vi, e com a
impressão que me fizeram, para não vos assustar demais. Sabemos que o
Senhor nunca falou do inferno a não ser por figuras, porque, ainda
quando no-lo houvesse descrito como é, não o teríamos entendido. Nenhum
mortal pode compreender essas coisas. O Senhor as conhece e pode
dize-las a quem quiser.
Várias noites sucessivas tive tal perturbação, que não pude dormir por causa do medo.
Contei-vos brevemente o que vi em
sonhos muito longos; deles não vos fiz senão um breve resumo. Darei mais
tarde instruções sobre o respeito humano, sobre o sexto e o sétimo
Mandamentos, sobre o orgulho. Não farei mais do que explicar esses
sonhos; porque em tudo estão conformes com a Sagrada Escritura; ainda
mais, não são senão um comentário do que se lê sobre o tema na mesma
Escritura.
Nestas noites, já vos contei algumas
coisas, mas quando puder vir falar-vos contar-vos-ei as restantes,
dando- vos as respectivas explicações.
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