Vi, com efeito, jovens que passavam
entre os laços sem nunca serem colhidos: ou passavam antes que o laço
caísse, ou sabiam esquiva-lo e o laço escorregava sobre os ombros, sobre
as costas, de um lado ou de outro, sem, contudo poder aprisiona-los.
Quando o guia se deu conta de que eu
havia observado tudo, fez-me continuar o caminho bordado de rosas que, à
medida que avançávamos, iam-se tornando mais raras, ao passo que
começavam a se fazer notar enormes espinhos.
Chegamos a um ponto em que, por mais
que olhasse, já não encontrava rosa alguma, e no final as sebes se
haviam tornado só de espinhos, desfolhadas e secas pelo sol. Das moitas
dispersas e ressecadas partiam galhos que serpenteavam pelo solo e
impediam o caminho, semeando-o de tal maneira com espinhos que só com
grande dificuldade se podia andar.
Havíamos chegado a uma baixada cujas
ribanceiras ocultavam as demais regiões vizinhas; o caminho, sempre em
declive, se tornava cada vez mais horrível, sem pavimentação, cheio de
buracos, degraus, pedras e rochas arredondadas.
Havia perdido de vista a todos os meus
jovens, muitíssimos dos quais haviam saído daquele caminho traiçoeiro
para tomar outros rumos.
Continuei caminhando. Quanto mais
avançava, mais áspera e rápida era a descida, de modo que às vezes
resvalava e caía por terra, onde ficava um pouco para retomar o fôlego.
De tempos em tempos o guia me sustentava e me ajudava a levantar. A cada
passo as articulações se me dobravam e parecia que meu ossos se iam
desconjuntar. Ofegante, eu dizia ao que me guiava:
- Meu amigo, minhas pernas já não podem me sustentar: estou tão esgotado que me é impossível prosseguir a caminhada.
O guia não respondeu, mas fazendo-me
sinal para ter ânimo continuou o caminho; até que, vendo-me suado e
morto de cansaço, conduziu-me a um patamarzinho que havia na entrada.
Sentei-me, respirei profundamente e me pareceu descansar um pouco. Eu
olhava entrementes o caminho percorrido: parecia quase vertical, semeado
de espinhos e pedras ponteagudas. Olhava depois o caminho que ainda
devia percorrer e fechava os olhos aturdido. Por fim, exclamei:
- Por caridade, voltemos par trás. Se
continuamos adiante, como faremos para retornar ao Oratório? Serme-á
impossível subir essa encosta.
O guia respondeu resolutamente:
- Agora que chegamos a este ponto, queres que te deixe só?
Diante da ameaça, exclamei em tom dolorido: - Sem ti, como poderei voltar para trás ou continuar a viagem.
- Pois bem, segue-me - acrescentou.
Levantei-me e continuamos descendo. O
caminho se tornava cada vez mais espantoso e intransitável, de modo que
mal podia manter-me em pé.
Eis que no fundo desse precipício, que
terminava num vale sombrio, apareceu um imenso edifício que exibia,
diante de nosso caminho, uma porta altíssima, fechada. Chegamos ao fundo
do precipício. Um calor sufocante me oprimia e uma densa fumaça
esverdeada se elevava em torno das muralhas, marcadas por chamas cor de
sangue. Levantei os olhos para ver a altura dos muros; eram mais altos
que uma montanha. Perguntei ao guia:
- Onde é que nos encontramos? Que é isso?
- Lê naquela porta - respondeu - pela inscrição saberás onde estamos.
Olhei e vi escrito na porta: Ubi non est redemptio [onde não há redenção]. Dei-me conta de que estávamos na porta do Inferno.
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