CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Ó MEU JESUS LIVRAI-NOS DA PORTA DO INFERNO.

Olhando ainda mais atentamente, vi que por entre os laços havia muitas facas espalhadas, ali colocadas por mão providencial, e serviam para corta-los e rompe-los. A faca maior era contra o laço do orgulho, e representava a meditação. Outra faca também grande, mas um pouco menor, significava a leitura espiritual bem feita. Havia também duas espadas. Uma delas indicava a devoção ao Santíssimo Sacramento, especialmente com a Comunhão freqüente; a outra, a devoção a Nossa Senhora. Havia também um martelo: a confissão. Havia outras facas, símbolo das várias devoções: a São José, a São Luís de Gonzaga etc. etc. Com estas armas não poucos rompiam os laços quando eram presos, ou se defendiam para não serem atados.
Vi, com efeito, jovens que passavam entre os laços sem nunca serem colhidos: ou passavam antes que o laço caísse, ou sabiam esquiva-lo e o laço escorregava sobre os ombros, sobre as costas, de um lado ou de outro, sem, contudo poder aprisiona-los.
Quando o guia se deu conta de que eu havia observado tudo, fez-me continuar o caminho bordado de rosas que, à medida que avançávamos, iam-se tornando mais raras, ao passo que começavam a se fazer notar enormes espinhos.
Chegamos a um ponto em que, por mais que olhasse, já não encontrava rosa alguma, e no final as sebes se haviam tornado só de espinhos, desfolhadas e secas pelo sol. Das moitas dispersas e ressecadas partiam galhos que serpenteavam pelo solo e impediam o caminho, semeando-o de tal maneira com espinhos que só com grande dificuldade se podia andar.
Havíamos chegado a uma baixada cujas ribanceiras ocultavam as demais regiões vizinhas; o caminho, sempre em declive, se tornava cada vez mais horrível, sem pavimentação, cheio de buracos, degraus, pedras e rochas arredondadas.
Havia perdido de vista a todos os meus jovens, muitíssimos dos quais haviam saído daquele caminho traiçoeiro para tomar outros rumos.
Continuei caminhando. Quanto mais avançava, mais áspera e rápida era a descida, de modo que às vezes resvalava e caía por terra, onde ficava um pouco para retomar o fôlego. De tempos em tempos o guia me sustentava e me ajudava a levantar. A cada passo as articulações se me dobravam e parecia que meu ossos se iam desconjuntar. Ofegante, eu dizia ao que me guiava:
- Meu amigo, minhas pernas já não podem me sustentar: estou tão esgotado que me é impossível prosseguir a caminhada.
O guia não respondeu, mas fazendo-me sinal para ter ânimo continuou o caminho; até que, vendo-me suado e morto de cansaço, conduziu-me a um patamarzinho que havia na entrada. Sentei-me, respirei profundamente e me pareceu descansar um pouco. Eu olhava entrementes o caminho percorrido: parecia quase vertical, semeado de espinhos e pedras ponteagudas. Olhava depois o caminho que ainda devia percorrer e fechava os olhos aturdido. Por fim, exclamei:
- Por caridade, voltemos par trás. Se continuamos adiante, como faremos para retornar ao Oratório? Serme-á impossível subir essa encosta.
O guia respondeu resolutamente:
- Agora que chegamos a este ponto, queres que te deixe só?
Diante da ameaça, exclamei em tom dolorido: - Sem ti, como poderei voltar para trás ou continuar a viagem.
- Pois bem, segue-me - acrescentou.
Levantei-me e continuamos descendo. O caminho se tornava cada vez mais espantoso e intransitável, de modo que mal podia manter-me em pé.
Eis que no fundo desse precipício, que terminava num vale sombrio, apareceu um imenso edifício que exibia, diante de nosso caminho, uma porta altíssima, fechada. Chegamos ao fundo do precipício. Um calor sufocante me oprimia e uma densa fumaça esverdeada se elevava em torno das muralhas, marcadas por chamas cor de sangue. Levantei os olhos para ver a altura dos muros; eram mais altos que uma montanha. Perguntei ao guia:
- Onde é que nos encontramos? Que é isso?
- Lê naquela porta - respondeu - pela inscrição saberás onde estamos.
Olhei e vi escrito na porta: Ubi non est redemptio [onde não há redenção]. Dei-me conta de que estávamos na porta do Inferno.

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