Uma
nova abordagem para tratar a leucemia, que consiste em usar o próprio
sistema imunológico para matar as células cancerígenas, superou a doença
em 88% dos adultos afetados e submetidos a este procedimento, segundo
uma nova pesquisa publicada nesta quarta-feira nos Estados Unidos.
O relatório traz novas e boas notícias para o florescente campo da
imunoterapia contra o câncer, que usa o que alguns descrevem como uma
"droga vivente" e foi considerado pela revista Science como o maior
avanço de 2013.
O último teste, publicado na revista Science Translational Medicine,
foi feito com 16 pessoas com um tipo de câncer no sangue conhecido como
leucemia linfoblástica aguda (LLA).
Mil e quatrocentas pessoas morrem de LLA nos Estados Unidos todos os
anos e, embora seja um dos tipos de câncer mais tratáveis, os pacientes
frequentemente se tornam resistentes à quimioterapia e sofrem recaídas
da doença.
Neste estudo, entre 14 e 167 pacientes tiveram uma remissão completa,
depois que suas células T foram modificadas para se concentrar na
erradicação do câncer.
A idade média dos pacientes foi de 50 anos e todos estavam à beira da
morte quando ingressaram no teste, uma vez que a doença tinha voltado
ou eles tinham percebido que a quimioterapia não funcionava mais.
A maior remissão tem dois anos de duração, disse o autor Renier Brentjens, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center.
Sem este tratamento, só 30% dos pacientes que sofreram recaída da
doença responderiam à quimioterapia, segundo estimativas dos
pesquisadores.
O processo supõe remover algumas das células T dos pacientes e
alterá-las com um gel para que reconheçam uma proteína - conhecida como
CD19 - nas células cancerígenas e atacá-las.
As células T sozinhas conseguem atacar outros invasores nocivos ao
corpo humano, mas permitiriam que o câncer cresça de forma ininterrupta.
"Basicamente o que fazemos é reeducar as células T no laboratório,
com terapia genética, para reconhecer e matar células com tumores",
disse à AFP Brentjens, acrescentando que após 15 anos de trabalhos, esta
tecnologia "parece realmente funcionar em pacientes com este tipo de
câncer".
No ano passado, sua equipe divulgou os primeiros resultados
promissores em cinco pacientes adultos, curados após fazer o tratamento.
O pesquisador avaliou que entre 60 e 80 pessoas nos Estados Unidos
ingressaram desde então nos testes experimentais do novo tratamento,
também estudado na Europa.
Em dezembro de 2013, especialistas de vários centros americanos onde
se realizam testes apresentaram suas descobertas no encontro anual da
Sociedade Americana de Hematologia, inclusive a Universidade da
Pensilvânia.
Brentjens explicou que outros centros de pesquisa conseguiram taxas
de remissão similares em seus estudos até o momento, "demonstrando que
isto não é um acaso".
"Este é um fenômeno real", que pode se tornar uma "reviravolta
paradigmática na forma como nos aproximamos do tratamento do câncer",
disse o especialista.
Os cientistas tentam agora averiguar porque o tratamento funciona em
todos os pacientes e identificar células receptivas de tipos de câncer
específicos que poderiam fazer com que, no futuro, a técnica servisse
para remover outros tipos de tumores.
A terapia continua sendo cara (100 mil dólares por pessoa), embora os
especialistas acreditem que o preço diminuirá uma vez que as empresas
farmacêuticas se envolvam mais e a técnica se expanda.
A F P / TERRA
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