CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

sexta-feira, 23 de junho de 2017

OBRIGADO POR NOS AJUDAR COM A CRUZ


Mt 11,25-30
1. "Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos". Jesus exulta de alegria pela acolhida da Palavra de Deus por parte dos mais humildes, das pessoas que não tem nada a perder, daqueles e daquelas que não estão acorrentados pela vaidade do saber e do poder. Não quer dizer que pelo fato de não terem o mesmo conhecimento dos estudiosos são mais favoráveis à acolhida da vida espiritual. Ser ignorante não é sinônimo de pessoa religiosa. O fato é que muitos, quando adquirem um pouco de conhecimento, passam à ilusão de que o conhecimento adquirido substitui imediatamente uma vida de fé. Na verdade é como se a pessoa que tem conhecimento se colocasse no lugar de Deus. A mesma coisa acontece com quem adquire muito dinheiro, achando que não precisa mais de Deus para nada. Ainda mais, também acontece com quem tem saúde, pois nessa condição acredita não precisar de Deus para nada. Em outras palavras, tornam-se pessoas altamente orgulhosas, cheias de si, intocáveis, críticas, capazes de tudo, mas ao mesmo tempo, cegas, ignorantes quanto à sua natureza limitada, imperfeita, cheia de pecado, indiferença, solidão, racismo, entre outras coisas. Tornam pessoas escravas de si mesmas, acorrentadas em suas misérias. Os pequeninos são os simples, aqueles e aquelas que conhecem suas fraquezas, suas limitações, sua incapacidade de tudo fazer por si somente, mas que conseguem perceber também o outro, a beleza da natureza, o simples gesto de amizade e afeto, o respeito a qualquer outra pessoa; são aqueles e aquelas que fazem de suas vidas um verdadeiro dom, que estão abertos ao Senhor do céu e da terra; são os discípulos de Jesus.
2. Os simples reconhecem Jesus. A eles, Jesus se revela como Filho de Deus desde toda a eternidade. Revela-lhes Sua identidade, Seu ser todo para o Pai, como se mostra também no evangelho segundo Jo 1 e 17, e Seu objetivo salvífico. A realidade eterna do Filho de Deus é conhecida somente por Deus mesmo: o Pai conhece o Filho e o Filho ao Pai na comunhão eterna das três divinas Pessoas. Tal conhecimento só é possível ao ser humano por iniciativa de Deus mesmo. É o próprio Jesus quem quer revelar o conhecimento de Deus para a salvação de todos, mas para isso exige, da parte das criaturas, humildade, simplicidade e acolhida. Somente aqueles que não se acorrentam nas armadilhas de suas misérias podem, como crianças, abrir-se a essa Revelação. Os fariseus e os mestres da lei, abarrotados de orgulho, à semelhanças de muitos arrogantes de todos os tempos, não foram capazes de perceber a presença de Deus em Jesus Cristo, não se abriram à Revelação plena de Deus, não encontraram o que prefigura o Antigo Testamento, isolando-se em seu próprio universo de interpretação sem horizonte para a visão do homem simples. Continuaram na cegueira do uso da lei em benefício próprio, na condição de opressores e arrogantes quanto à prática da Lei.
3. Os discípulos, ao contrário, fazem da simplicidade e da humildade, do amor e da verdade, da fé e da esperança, da obediência e da disponibilidade, do desapego e da solidariedade suas mais eficazes armas de enfrentamento do mundo, tornando-se, assim, um perigo para aqueles que insistem em se manter na estrada contrária, nos sonhos iludidos do orgulho, na lógica desumana tão apetitosa ao instinto interesseiro.
4. "Vinde a mim, todos vós, que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim...". De fato, não é indo às autoridades de Israel, que impõem fardos pesados sobre os ombros dos mais simples, que o povo encontra repouso, sentido e libertação. Na verdade, nenhuma autoridade desse mundo pode libertar ninguém. Jesus Cristo não quer ser um peso, um fardo insuportável, mas o Caminho, a Verdade e a Vida verdadeira, a libertação de todos. Quem DELE se aproxima encontra ternura, misericórdia, possibilidade de libertação e o verdadeiro sentido de sua existência. Por sua vez, as autoridades de Israel não respeitavam a fragilidade do povo simples, não lhe davam muito crédito, não levavam em consideração todas as suas necessidades. Pelo contrário, a esse povo impuseram uma lei dura demais, cheia de tantos nós, quase que impossíveis de serem desatados. O povo nem entendia tantas leis nem, na verdade, as praticava. Jesus oferece a mais pura compreensão da Lei de Deus e coloca-se, Ele mesmo, como condição única de salvação, deixando a todos o Seu testamento de amar absolutamente a Deus e ao próximo do jeito como Ele amou.
5. "Vinde a mim". A criação e a salvação acontecem por meio do Filho. Por Ele tudo foi criado, também por Ele tudo será salvo. Não se pode pensar em salvação prescindindo de Jesus: "Ninguém vem ao Pai senão por mim". O encontro com Jesus é necessário para a restauração da pessoa e da descoberta de sua própria identidade. Sendo Jesus o Homem Novo, o Homem Perfeito, possibilita ao homem, que com Ele se encontra, enxergar seu futuro, aquilo que deve ser, aquilo para o qual foi criado. Além disso, ao encontrar-se com Jesus, o homem certamente tomará consciência de sua realidade criatural, frágil, limitada e necessitada da misericórdia de Deus; entenderá que não é perfeito, mas feito para a perfeição; que não é o senhor de ninguém, mas um irmão entre os irmãos; que não pode tudo, mas que foi criado para servir na construção de um mundo novo; que é um dom de Deus, mas que estava escondido na própria miséria.
6. O homem precisa ir ao encontro do Salvador. No contexto do texto havia opressões, exploração dos mais simples, deturpação do poder, arrogância, jogo de mentiras, luta por cargos importantes, gente de nome familiar forte, fazendo valer seu nome a qualquer custo, até mesmo tendo que pisar os mais simples, carrascos da fé; muitos usando o nome de Deus para manipular os demais, tê-los sob o próprio comando, enganando com falsa religiosidade, impondo fardos pesados, com o intuito apenas de lucrar às custas dos inocentes, dos pequeninos do Senhor. Hoje acontece do mesmo jeito. O homem ainda não aprendeu nada. Usa-se o nome de Jesus, com falsa expressão religiosa de humildade e santidade, tendo como objetivo a continuidade de sua vidinha voltada para si mesmo, apegado às honrarias mundanas, aos pegos terrenos, aos louvores de uma sociedade apodrecida. O homem precisa mudar de verdade, escolher o caminho da total entrega de si mesmo ao Senhor e à sua vontade.
7. Os que estão cansados e fatigados são todos os que já não suportam mais tanta injustiça, tanta enrolação, tanto descaso, tanta mentira e tanta exploração de sua dignidade e força. São todos os que passam fome, os que foram marginalizados, colocados à parte da sociedade, da família, da religião soberba, dos direitos sociais e da fé. Digo da fé, porque muitos não estão recebendo mais uma visita do seu pastor, a sagrada comunhão, a confissão, os sacramentos de modo geral; não têm direito nem a uma boa explicação da Palavra de Deus. Isso pode ser chamado de crime contra a salvação dos pequeninos de Deus.
8. Realmente, somente Jesus é o MANSO E HUMILDE, O PERFEITO E A NOVIDADE. É urgente que cada um tenha um encontro com Ele. Tanto o que sofre as consequencias das tiranias do mundo quanto os tiranos, todos, todos devem buscar a salvação, especialmente os sofredores. Somente em Cristo, o homem encontrará sentido para lutar, para enfrentar os desafios do tempo, de si mesmo e da própria família; para combater contra as tendências pessoais, contra si mesmo e contra tudo o que o separa de Deus; somente em Cristo, cada um se tornará livre, mesmo nas dificuldades diárias, para viver dignamente o chamado de Deus a uma vida nova e a ser de fato um dom para a construção de um mundo fraterno.
Um forte e carinhoso abraço.
Pe. José Erinaldo

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