CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

sábado, 24 de agosto de 2019

A ADVOGADA DOS PECADORES



          O céu se faz presente em nossa história, e nossa história, no céu. O Pai age silenciosamente e de modo imperceptível aos olhos do mal; Seu Filho assume a novidade de ser um ser humano permanecendo o que é segundo a divindade. Hoje o Verbo de Deus além de 100% Deus, tornou-se 100% um de nós. Para que tudo isso acontecesse, Deus divinizou Maria, isto é, santificou-a, ligando-a estreitamente ao Filho; tal ligação trouxe riscos: Maria poderia ter sido apedrejada e, com ela, o Salvador do mundo. Jesus e Maria estão ligados Um ao Outro desde “quando” o Pai “pensou” em enviar o Seu Filho; estão unidos na promessa; na maternidade; na vida pública e também aos pés da cruz. Maria é o tesouro de Jesus, que, no momento final, entregou não a qualquer um, pois não se trata de qualquer coisa a ser entregue de qualquer jeito, mas ao DISÍPULO AMADO. Maria é a BENDITA, mãe do BENDITO, é a Bem-Aventurada, e todas as gerações hão de proclamar essa verdade. Em outras palavras, ela está com o Filho também no Paraíso. A morte não tem o poder de conservar em suas “garras” aquela que foi absolutamente santificada para ser a Mãe, o Templo, o Sacrário do Altíssimo.
2. Lucas não tem dúvida da realização do projeto de Deus por meio de Jesus Cristo. Também é claro para ele que a obra da salvação é, antes de tudo, iniciativa de Deus, que prepara Seu próprio “lugar” na história e o Templo para a concretização de Sua presença salvadora. Todo voltado para Cristo e a partir DELE, Lucas faz uma releitura do Antigo Testamento e encontra indicações diretas a Cristo, profecias e promessas que somente em Jesus podem ser realizadas, como, por exemplo, Ele na condição de descendente de Davi, a realeza eterna e a filiação divina: “Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza” (2Sm 7,12a). Literalmente, o autor sagrado se referia a um filho biológico de Davi, mas espiritualmente, a profecia não era para Salomão, mas para o Filho de Deus. Um dado importanto é justamente não se tratar de uma realeza política, mas religiosa, no âmbito da interioridade humana por ação do Espírito Santo. Assim, Lucas frisa alguns pontos indicativos dessa realidade messiânica: “prometida em casamento a um homem chamado José” (descendente de Davi); “alegra-te, cheia de graça” (o alegra-te diz respeito, especialmente, à alegria messiânica); “será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim” (referência clara à proficia de Natã).
3. “Como se fará isso, …?”. Lucas responde que tudo acontecerá por ação do Espírito Santo. Somente no Espírito, o Verbo do Pai se fará filho de Davi, terá seu próprio Templo a partir do qual criará novos céus e nova terra. Deus escolheu a PEQUENINA entre os homens, afirmando não querer templo de mãos humanas, mas um ser humano edificado segundo Sua vontade e Sua graça para ser sinal do Reino querido por Ele na história. A pequenina de Deus, toda DELE, traz em si, por graça divina, o sinal da vida abraçada por Jesus, que quis viver como SERVO. Ela a serva do SERVO para a vida do mundo pensado por Deus. Se o mundo quer saber que tipo de Arca Deus quis e que Templo O comporta, então precisa olhar Maria, pois vendo-a, é possível comtemplar o poder admirável de Deus.
4. A Galileia, um lugar sem expressão, não ortodoxo precisamente, região não valorizada, cenário da desconhecida Nazaré. É a região dos pobres, dos marginalizados, daqueles sem crédito e sem voz. Nesse ambiente encontra-se Maria, pobre, mas aberta à iniciativa de Deus, ao seu chamado. Ela inaugura o novo tempo dos pobres como amados de Deus. Sendo ela dessa região, foi conhecida, preparada, predestinada e escolhida para ser a Mãe do Senhor. Deus escolheu o que o mundo continua rejeitando, para transformar num tesouro para Si mesmo. Por meio dessa pequenina, "A MENINA DE NAZARÉ", Deus entrou na história, participando dela como um igual, assumindo a nossa carne, a nossa realidade, certamente sem o pecado, mas assumindo os nossos para nos salvar.
5. Maria se tornou a kecharitoméne, isto é, a AGRACIADA em sentido pleno, "plena do amor benévolo de Deus". Em Maria não havia brecha para o pecado. Ela é a INIMIGA da Serpente (cf. Gn 3,15). Ela não possui ligação nenhuma com o mal, todo o seu ser pertence exclusivamente a Deus, que a criou toda para Si para que ela pudesse ser toda para o bem da humanidade. Somente quem é todo pode se colocar de modo total para a salvação dos homens. Maria é um tesouro de Deus, amado por Ele, preparado para Seu Projeto salvífico e para ser sinal da ação libertadora. Deus a quis como Sua ARCA, como SEU TEMPLO, não feito por mãos humanas (cf. Is 66,1-2; At 7,48), como a Arca da Nova e Eterna Aliança, a Portadora de Cristo e do Espírito, a "MÃE DO MEU SENHOR" (Lc 1,43).
6. A virgindade de Maria, totalmente consagrada a Deus, tornou-se um sinal autêntico da divindade de Jesus. Sendo toda de Deus, seus interesses voltam-se exclusivamente para Ele, de modo que s. Agostinho afirmará que Maria era virgem tanto por não ter conhecido homem quanto por opção pessoal. Daí por que ela solicitou uma explicação sobre como conceber aquele filho. De fato, nela o Filho de Deus tornar-se-á carne, um de nós, por ação do Espírito Santo. Justamente hoje, a Igreja celebra a Maria Rainha, unindo essa memória à entrada do Salvador na nossa história, o dia em que a humanidade reencontra seu futuro e a condição de sua realização. Diante da opção de Maria, o anjo deixa claro que a obra de Deus nela não contará com a participação de homem e que isso não é impossível para Deus, que permitiu a geração a Isabel, uma anciã estéril. Lc esclarece que o menino Jesus, na Sua condição humana, foi criado diretamente por Deus, como fez com Adão, mas não utilizando a terra, e sim um ser humano pleno de Sua graça, uma MULHER, aquela que não tem comunicação com a SERPENTE, que não se ilude com o mal, a INIMIGA da SERPENTE. Lc indica, portanto, a NOVA CRIAÇÃO, o novo início, o novo ÉDEN.
7. A pobreza de Maria, bem como sua fé e abertura total à vontade de Deus, permitiram à Virgem de SER O MAIS PRECIOSO LUGAR DO MAIS IMPORTANTE ENCONTRO DE DEUS COM A HUMANIDADE. Maria, diferentemente de Eva, não dialogava com a Serpente, não se deixou atrair pelas tentações do mundo, não buscou a si mesmo nem duvidou de Deus. Pelo contrário, colocou-se absolutamete à disposição do Senhor. Maria não é fechamento da graça, mas abertura para Deus; não é contradição, mas clareza; não está no início da historia do pecado, mas da graça divina, que entra na história de modo pessoal; não encabeça uma humanidade pecadora, mas uma realidade nova de discípulos, feitos filhos no Filho; não é Eva, mas Ave; não é uma vergonha, mas a Kecharitomene, a plena de Deus; não está escondida por causa do pecado, mas de braços abertos para receber o Salvador; não foi expulsa do Jardim, mas tornou-se porta para ele; não é lugar de separação, mas de encontro salvífico.
Um forte e carinhoso abraço.
Padre José Erinaldo


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