CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

domingo, 10 de setembro de 2023

6 – SEXTA-FEIRA. Belíssimo comentário de Santa Catarina sobre a parábola do Evangelho de São Mateus (Mt 25)

 


Primeira Leitura: Baruc 1,15-22

Leitura do livro de Baruc – 15Ao Senhor nosso Deus cabe justiça; enquanto a nós, resta-nos corar de vergonha, como acontece no dia de hoje aos homens de Judá e aos habitantes de Jerusalém, 16aos nossos reis, nossos príncipes e sacerdotes, aos nossos profetas e nossos antepassados: 17pois pecamos diante do Senhor e lhe desobedecemos, 18e não ouvimos a voz do Senhor, nosso Deus, que nos exortava a viver de acordo com os mandamentos que ele pôs sob os nossos olhos. 19Desde o dia em que o Senhor tirou nossos pais do Egito até hoje, temos sido desobedientes ao Senhor nosso Deus, procedemos inconsideradamente, deixando de ouvir sua voz; 20por isso, perseguem-nos as calamidades e a maldição que o Senhor nos lançou por meio de Moisés, seu servo, no dia em que tirou nossos pais do Egito para nos dar uma terra que mana leite e mel, como de fato é hoje. 21Mas não escutamos a voz do Senhor, nosso Deus, como vem nas palavras dos profetas que ele nos enviou, 22e entregamo-nos, cada qual, às inclinações do perverso coração, para servir a outros deuses e praticar o mal aos olhos do Senhor, nosso Deus! – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 78(79)

Por vosso nome e vossa glória, / libertai-nos, ó Senhor!

1. Invadiram vossa herança os infiéis,  profanaram, ó Senhor, o vosso templo, / Jerusalém foi reduzida a ruínas! / Lançaram aos abutres, como pasto, / os cadáveres dos vossos servidores; / e às feras da floresta entregaram / os corpos dos fiéis, vossos eleitos. – R.

2. Derramaram o seu sangue como água † em torno das muralhas de Sião, / e não houve quem lhes desse sepultura! / Nós nos tornamos o opróbrio dos vizinhos,  um objeto de desprezo e zombaria / para os povos e àqueles que nos cercam. / Mas até quando, ó Senhor, veremos isso?  Conservareis eternamente a vossa ira? / Como fogo arderá a vossa cólera? – R.

3. Não lembreis as nossas culpas do passado,  mas venha logo sobre nós vossa bondade, / pois estamos humilhados em extremo. – R.

4. Ajudai-nos, nosso Deus e salvador!  Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos! / Por vosso nome, perdoai nossos pecados! – R.

Evangelho: Lucas 10,13-16

Aleluia, aleluia, aleluia.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: / Não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, disse Jesus: 13“Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que foram feitos no vosso meio, há muito tempo teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre cinzas. 14Pois bem, no dia do julgamento, Tiro e Sidônia terão uma sentença menos dura do que vós. 15Ai de ti, Cafarnaum! Serás elevada até o céu? Não, tu serás atirada no inferno. 16Quem vos escuta a mim escuta; e quem vos rejeita a mim despreza; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou”. – Palavra da salvação.

Reflexão:

No texto anterior, Jesus menciona Sodoma, a cidade pecadora, que no julgamento será tratada com menos rigor do que outras cidades que rejeitam o Reino (Corazin, Betsaida, Cafarnaum). Estas recebem de Jesus a dura ameaça reservada para casos extremos. É um enérgico apelo à conversão. Quem rejeita os discípulos, rejeita o próprio Jesus e Deus Pai que o enviou. Recusar o dom de Deus é escolher a própria condenação, é escolher a morte, permanecendo fora da nova história e das novas relações sociais que nascem do projeto de Deus. Jesus visita continuamente nossas comunidades, chamando-nos à conversão mediante fatos, crises, frustrações, esperanças pessoais e coletivas. Precisamos estar atentos aos sinais da visita de Jesus, a fim de não deixarmos cair em vão a graça de Deus que está passando.

(Dia a Dia com o Evangelho 2023)

Uma Exegese Diferente - Santa Catarina de Sena

Belíssimo comentário de Santa Catarina sobre a parábola do Evangelho de São Mateus (Mt 25)

Carta 23

à sobrinha Nanna

Saudação e objetivo
Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssima filha no doce Cristo Jesus, eu, Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, escrevo-te no seu precioso sangue, desejosa de ver-te verdadeira esposa de Cristo crucificado, a evitar tudo o que te impeça de ter Jesus como bondoso e sublime esposo.

Nosso coração é como uma lâmpada
Pois tal coisa não conseguiras, se não fores como aquelas virgens prudentes (Mt 25), consagradas a Cristo, que possuíam lâmpadas, óleo e luz. Presta atenção. Para ser esposa de Cristo, e preciso ter uma lâmpada, o óleo e a luz. Sabes, minha filha, o significado dessas coisas?
A lâmpada significa o coração, o qual tem a forma de uma lâmpada. Bem sabes que a lâmpada é larga no alto e estreita embaixo. Também nosso coração é assim, para indicar que devemos possuí-lo espaçoso, em cima, para os bons pensamentos, as santas imaginações e a oração contínua, retendo na memória, continuamente, os favores divinos, sobretudo os benefícios do sangue com que fomos remidos. Minha filha! O bondoso Jesus não nos resgatou a preço de ouro, prata, pérolas e demais pedras preciosas, mas com seu sangue. Tal favor nunca deve ser esquecido, sempre terá de estar diante do nosso olhar com santa e terna gratidão, pois e incomensurável o amor de Deus por nós. Deus Pai não recusou entregar seu Filho único a uma cruel morte na cruz para nos dar a vida da graça.
Eu disse que a lâmpada é estreita embaixo. Também nosso coração deve sê-lo em relação às realidades terrenas. O coração não pode desejar tais bens desordenadamente, nem desejá-los ou procurá-los mais do que for do agrado divino. Vendo que Deus nos prove com amor, nada nos deixando faltar, o coração sempre lhe será grato. Agindo assim, nosso coração realmente será como uma lâmpada.

O óleo é a humildade
Recorda-te porém, minha filha, de que tudo isso não basta se faltar o óleo na lâmpada. Com a palavra "óleo" entende-se uma delicada e oculta virtude, a grande humildade. Pois a esposa de Cristo tem de ser humilde, mansa e paciente. Tão humilde quanto paciente, tão paciente quanto humilde. Mas nunca alcançaremos a humildade sem o autoconhecimento.
E necessário que reconheçamos a nossa miséria e fraqueza, convencidos de que por nós mesmos somos incapazes de praticar qualquer ato virtuoso e superar lutas internas e inquietações. Não somos capazes de afastar de nós as doenças corporais, as dores, as dificuldades íntimas. Se fossemos capazes, fa-lo-íamos imediatamente. De nós mesmos somos apenas vergonha, miséria, mau cheiro, fraqueza e pecado. Importa-nos ficar sempre embaixo, humildes.
Mas não é bom permanecer apenas em tal conhecimento de si. A pessoa cairia no desânimo e na perturbação, chegando até ao desespero. A isso procura levar-nos o demônio. E necessário conhecer também a presença de Deus em nós, refletindo que Ele nos fez à sua imagem e semelhança, nos recriou pela graça no sangue do Verbo, seu Filho unigênito, e a bondade divina age continuamente em nosso favor. Todavia, quem se reduzisse somente a esse conhecimento de Deus em si, cairia na presunção e na soberba.
Ocorre mesclar esses dois conhecimentos: não somente pensar em Deus, nem somente em nós. Assim fazendo, seremos humildes, pacientes, mansos. Possuiremos o óleo na lâmpada.

A luz é a fé
Devemos ter também a luz, a luz da fé. Mas os Santos dizem que a fé sem as obras é morta. Ocorre, pois, agir sempre virtuosamente, abandonar a infantilidade das vaidades, não viver como jovem fútil, mas como esposa fiel, consagrada a Cristo crucificado. Desse modo, teremos a lâmpada, o óleo e a luz.

Deus é ciumento de suas esposas
Diz o Evangelho (Mt 25,2) que as virgens prudentes eram cinco. Pois bem, afirmo-te que cada um de nós há de "ser cinco", sob pena de ficar excluído das núpcias eternas. A palavra "cinco" significa nossa obrigação de dominar e mortificar os cinco sentidos corporais, jamais ofendendo a Deus com eles, na procura de afeições ou prazeres desordenados com todos ou alguns deles. Seremos "cinco" dominando os cinco sentidos do corpo.
Mas recorda-te: o esposo Jesus Cristo é ciumento de suas esposas; eu nem saberia dizer-te quanto! Se ele nota que tu amas outras pessoas mais que a Ele, ficará indignado contigo. E se não mudares (teu comportamento), para ti não será aberta a porta do lugar onde o Cordeiro imaculado celebra as núpcias com todas as suas esposas. Quais adúlteras, seremos rechaçadas a semelhança daquelas cinco virgens imprudentes. Elas se gloriavam única e tolamente da sua integridade e virgindade corporal; por isso perderam a virgindade da alma, pela corrupção dos cinco sentidos do corpo. Faltava-lhes o óleo da humildade e suas lâmpadas se apagavam. Então foi-lhes dito: "Ide comprar o óleo" (Mt 25,9). Nessa passagem o "óleo" indica os atrativos e engodos mundanos, vendidos pelos aduladores e lisonjeadores do mundo. Como se o esposo dissesse: "Não quisestes comprar a vida eterna pela virgindade e boas obras; preferistes os galanteios humanos e por eles vivestes. Ide comprá-los. Aqui não entrareis".

Catarina aconselha a vida consagrada
Minha filha, toma cuidado com os elogios dos homens. Nunca procures ser elogiada por alguma boa ação que praticares. Aporta da eternidade não te seria aberta. E porque eu considero ótima aquela estrada (da vida consagrada), disse antes que desejava ver-te fiel esposa de Cristo crucificado. Peço e suplico que te esforces para o ser.

Conclusão
Nada mais acrescento. Permanecei no santo e doce amor de Deus. Jesus doce, Jesus amor!

Fonte:http://almasdevotas.blogspot.com/search/label/Cartas.
As Cartas, Santa Catarina de Sena - Tradução Frei João Alves Basílio, O.P. Editora Paulus

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