CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

PENSAMENTOS DIANTE DA BOA NOVA

  Mais uma vez estamos diante do uso de uma palavra que pode colocar o discípulo na contramão de sua identidade como discípulo. Trata-se da palavra "maior". Os discípulos perguntam: "Quem é o maior no Reino dos Céus?" A questão é que muitos podem interpretar essa pergunta como se eles estivessem interessados em algum posto de honra entre eles, ou mesmo haver uma hierarquia dos lugares mais importantes, mas não é bem assim. Quando eles colocam a expressão "Reino dos Céus" dão a entender que o termo "maior" aqui se refere à "grandeza espiritual". Certamente, estão pensando a vida de comunhão com Deus nos moldes da lógica dos postos de honra do "homem velho".


2. Diante de tal pergunta, Jesus responde, exigindo duas coisas dos discípulos e de toda a Igreja: conversão e tornar-se como crianças. Converter-se quer dizer mudar de mentalidade, lançar por terra a mentalidade do "homem velho", pecador, seguidor de si mesmo e dos desejos e interesses do mundo, para entrar na mentalidade do Evangelho, na lógica trazida por Jesus Cristo. O homem que pensa com o mundo tem uma visão panorâmica da realidade e aponta somente os lugares belos, famosos e que enchem o seu prazer pessoal. Agora, há o convite a enxergar a realidade de si mesmo, do mundo e do outro a partir dele mesmo. O olhar convertido enxerga humildemente, desprovido de escórias, de seguranças humanas, de interesses mundanos, procura ser simples, pobre, desapegado de tudo e de todos, confiante. É aquele olhar que atinge o âmago, o mais profundo, a essência do outro ou mesmo de si mesmo. Esse é o olhar de uma criança, que confia no pai, joga-se medo nos seus braços e não quer saber dos desconhecidos, desprovidos de amizade com quem ela ama e por quem é amada.

3. Os discípulos não devem somente ser como as crianças, mas também cuidar dos desprovidos, dos humildes, dos sofredores da comunidade de fé; devem ser autênticos amigos do Mestre, seus mais eficazes instrumentos de bondade para com todos. Eles devem ser compreensivos, misericordiosos, solidários e disponíveis para com os "pequeninos" de Deus, aqueles que crêem na mais profunda simplicidade de sua existência; que não têm poder nem direitos; que, na verdade, não são importantes para o jogo de interesse dominante do mundo. Esses pequeninos são as "pupilas de Jesus" e, obrigatoriamente, também dos seus discípulos, que, por sua vez, são também eles as mesmas "pupilas".

4. "O que vos parece?" O modo como Jesus educa difere muitíssimo daqueles que estamos acostumados a perceber nos que se dizem "mestres e doutores". Ele não força o outro a ter que pensar do jeito DELE. Pelo contrário, seu modo de ensinar conduz o ouvinte à reflexão, permite que o outro tenha a possibilidade de criar, a partir de seu próprio pensamento, um ambiente acolhedor àquelas palavras essenciais, ditas de modo fascinante. Aquele que ouve é quem se sente na obrigação de guerrear dentro de si mesmo, a fim de atingir aquilo pelo que foi tocado de modo extraordinário.

5. Jesus revela o imenso interesse salvífico de Deus. A vinda de Jesus ao mundo é, concretamente, a resposta ao texto de hoje. Por meio do Filho, o Pai veio procurar sua criação, veio dizer a ela o quanto seu Amor é grande e que nunca desistirá do desejo de salvá-la, configurando ao Filho no Espírito Santo. Como na parábola do filho pródigo, aqui o texto demonstra a iniciativa misericordiosa da salvação, que Deus se preocupa com o seus e que os quer com Ele. O discípulo sabe que é um "mísero inseto", um nada, mas infinitamente amado e protegido por Deus. O texto é claro quando diz que a alegria de ter encontrado a ovelha que se perdeu é maior do que pelas noventa e nove salvas. Realmente Deus olha a mim e a vc, qualquer pessoa em qualquer parte do mundo, rico ou pobre, santo ou pecador, feio ou bonito, sadio ou doente, desejando apenas uma coisa: que cada um se deixe encontrar por Ele.

6. A ovelha desgarrada num primeiro momento acha que é livre, pode fazer tudo, comer em qualquer pasto, beber em qualquer fonte, tomar sol na hora que quiser, banhar-se quando bem entender, mas vem a noite, e aí passa, num segundo tempo, a se sentir sozinha, sem o pastor a lhe acariciar a testa, olhar um ferimento no casco, chamá-la pelo nome e permanecer ali, de guarda, protegendo-a. A solidão toma conta de sua vida, não está em casa, outros querem usá-la, ninguém a vê como ovelha do rebanho, mas como uma estranha naquele ambiente; não é acolhida, abraçada, mas tida quase como um câncer. Ali, ela está à mercê de todos, seu valor lançado por terra, sua dignidade escondida, seu futuro nas mãos do acaso ou de tiranos.

7. Assim se encontram homens e mulheres que fogem do seu lar salvífico, que procuram viver o que pensam de qualquer modo, que acham que são donos de si mesmos, que optam por uma vida sem Deus. Mesmo nessa condição, Deus vem, com certeza, ao encontro de cada um não como um carrasco, não como um ditador, desrespeitando a liberdade que cada um possui, mas do jeito de Jesus Cristo, fascinante nas palavras, Obediente na ação, Justo no objetivo, Servo na missão, Amigo da humanidade segundo sua vida na história e Misericordioso na atitude. Por meio do Verbo feito carne, o Pai não quer perder nenhum sequer dos seus pequeninos, de todos os que fizeram, fazem e farão opção de vida por Ele; não quer perder a obra de suas mãos.


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