Félix com a camisa da Seleção
Agência Estado
Quando
se fala na galáctica Seleção tricampeã do mundo de 1970, lembra-se
logo dos medalhões. Os gols e os não gols antológicos de Pelé, os
lançamentos milimétricos de Gerson, a inteligência de Tostão, a
explosão de Jairzinho, a patada atômica de Rivellino, a liderança de
Carlos Alberto Torres... Mas uma personagem, em especial, também deu
sua grande contribuição para o título. Chamado carinhosamente de Papel,
por ser tão magro e leve, o goleiro Félix deu seus voos rasantes e
salvadores em jogos difíceis contra a Inglaterra e o Uruguai. Naqueles
momentos, ajudou como nunca o país a viver a felicidade. O mesmo Brasil
que agora fica triste com sua morte na manhã desta sexta-feira, aos 74
anos.
Para
quem é jovem e não viu ou já tem idade mas não se recorda, os dois
momentos de Félix na história brasileira nas Copas ocorreram em duas
partidas das mais difíceis na campanha do tricampeonato mundial. A
primeira grande defesa foi contra a Inglaterra. E ocorreu logo no
início, quando o placar ainda estava 0 a 0. Aos 12 minutos do primeiro
tempo, após centro da direita, Francis Lee cabeceou à queima-roupa.
Félix defendeu e, no rebote, ainda sofreu falta do jogador. Àquela
altura, tomar um gol certamente daria mais tensão ao time, que
encontrava forte marcação inglesa. Depois, com um gol de Jairzinho, o
Furacão, o Brasil saiu com o triunfo por 1 a 0.
Outro
momento marcante do Papel aconteceu pouco depois. Partida duríssima na
semifinal. O adversário? O Uruguai, carrasco da Copa de 1950. O Brasil
vencia por 2 a 1, e a seleção rival pressionava pelo gol do empate.
Àquela altura, o sonho era levar o jogo para a prorrogação. Aos 40
minutos da segunda etapa, Cortes levantou na área brasileira. Cubilla,
um dos craques daquela Celeste, cabeceou no canto esquerdo. O Papel se
espichou para, à meia-altura, espalmar a bola. Depois, a defesa tirou-a
da zona de perigo. E Rivellino ainda marcou o terceiro gol, selando a
classificação por 3 a 1. A performance, na época, foi tratada como "a
defesa que valeu por um título". Depois, a final, contra a Itália, foi
vencida por 4 a 1, num dos maiores shows de bola da Seleção.
Esse
era Félix. Ídolo no Fluminense, onde foi multicampeão, e na Portuguesa,
o ex-goleiro, que disputou 48 partidas pela Seleção, sofria de
enfisema pulmonar e estava internado no Hospital Vittoria, no Jardim
Anália Franco, na Zona Leste, em São Paulo. Félix faleceu em
decorrência de várias paradas cardiorrespiratórias. Muito abatida, a
família informou que o velório será a partir das 15h30 desta sexta, no
cemitério de Araçá, onde o corpo do ex-jogador será enterrado na manhã
deste sábado.
Carreira
Nascido
no bairro da Mooca, em São Paulo, Félix Miéli Venerando iniciou a
carreira no futebol paulista. Defendeu o Nacional AC, da capital
paulista, o Juventus e, logo em seguida, a Portuguesa. Lá já começou a
chamar a atenação, tanto que foi convocado para quatro partidas pela
Seleção. Mas foi no Rio de Janeiro que o goleiro viveu seu auge. Félix
defendeu o Fluminense entre 1968 e 1976, quando se aposentou.
No
Tricolor, disputou 319 partidas e ganhou os títulos do Campeonato
Carioca de 1969, 1971, 1973, 1975 e 1976, já como reserva, além do
Torneio de Paris de 1976. A maior conquista, no entanto, foi do
Campeonato Brasileiro de 1970.
Os
tricolores mais vividos e de boa memória lembram sempre de uma das mais
belas defesas da história do Maracanã. Sim, foi de Félix. E na partida
contra o Botafogo, pela Taça Guanabara de 1975. Mais uma vez, o
goleiro contrariou a lógica. Da meia-lua da área, o atacante Nilson
Dias matou no peito e deu a bicicleta. Quando a torcida alvinegra se
preparava para comemorar o golaço, lá estava ele, o Papel, para mais
uma defesa salvadora.
Goleiro
elegante, jogador disciplinado, Félix ainda brilhou no ano do título
mundial do México ao receber outro prêmio: o Belfort Duarte, que
homenageava o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem
ser expluso, tendo jogado pelo menos 200 partidas nacionais ou
internacionais. Em 1982, Félix ainda teve uma curta experiência como
treinador no Avaí.
Neste
fim de semana, todas as partidas do Campeonato Brasileiro terão um
minuto de silêncio em sua homenagem. Nada mais justo. Félix começará
para sempre a escalação do maior time dos sonhos. O Papel jamais será
esquecido.
Félix posa com a galáctica Seleção tricampeã mundial em 1970: time de craques
Foto: Agência Estado
G 1
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