CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

A VONTADE DO PAI

     Jesus, tendo ordenado seus discípulos de atravessarem o mar e despedido a multidão, subiu o monte para rezar. Depois de um dia todo voltado para a formação dos seus discípulos e para o bem do povo de modo geral, Jesus quis ficar a sós com o Pai. Durante o dia, Ele esteve com o Pai, mas voltado para sua missão. À noite, enquanto todos se reuniam com os seus, Ele permanecia com o Pai e voltado totalmente para Ele, ou seja, a totalidade do seu ser na contemplação de Deus. Essa atitude de Jesus deve ser seguida pelos seus, que devem passar todo o dia em oração, isto é, diante de Deus, mesmo no trabalho, nos estudos, em casa, no lazer, em toda parte. Os discípulos devem fazer tudo sem sair da visão de Deus. Isso significa permanecer com Deus, fazendo o que deve ser feito. Depois, durante o mesmo dia, cada um deve escolher alguns momentos fortes para ficar com Deus e somente para Ele. Ou seja, é aquele momento do discípulo e de Deus absolutamente. Por isso é que na Liturgia das Horas, a Igreja coloca-se em oração contínua, santificando todos os instantes do dia, como por exemplo: Ofício divino (pode ser rezado em qualquer horário), Laudes (manhã), Terça (as 09), Sexta (12h), Nona (15h), Véspera (a partir das 16h) e Completas (depois das 20h).
2. Depois da oração, Jesus foi ao encontro dos seus discípulos, que se encontravam, à noite, no meio do mar, e estavam cansados de remar, pois o vento era contrário. A barca é sinal da Igreja; a noite indica as trevas; o mar é símbolo do mal; os discípulos estão lutando para continuar no objetivo ordenado por Jesus: atravessar para o outro lado; o vento contrário é tudo aquilo que se coloca como obstáculo à missão de Jesus Cristo, é ação do mal em cada um e externamente. A Igreja, como Corpo de Cristo, sofre as consequências de sua missão no meio do mundo. Não é fácil ser testemunha de Cristo num mundo onde domina a lógica do poder e da carne, onde o instinto é o rei supremo; onde somente mentindo se pode alcançar algo. Os discípulos cansam porque enfraquecem na fé, na esperança e no amor; enfraquecem na compreensão dos mistérios de Deus; perdem o encanto da verdade; duvidam de tudo até de si mesmos; muitos já nem tem mais gosto pela oração e se deixam conduzir pela lógica da ciência do mundo, não aprofundando mais sua formação teológica; muitos ficam à deriva, no meio da noite ou as três da manhã, sem horizonte e sem coragem.
3. Jesus caminhou sobre as águas. Já cansados, fracos na fé e com medo, os discípulos pensaram ser um fantasma passando por eles. Sem fé, não é possível enxergar a presença de Deus, que não abandona sua Igreja; certamente, permite que esta, muitas vezes, tenha a impressão de que está só, a fim de que cada membro, cada discípulo possa ver sua própria miséria, sua fraqueza, sua limitação, sua incapacidade. O gesto da visita inesperada, andando sobre as águas revela algo mais sobre Jesus, pois só Deus tem esse poder (cf. Jó 9,8; Sl 76,20; Is 43,16), esse domínio sobre a natureza, e, ainda, esse domínio sobre o mal. Assim como Deus fez passar sua glória junto a Moisés (cf. Ex 33,21-23) e a Elias no Monte Horeb (cf. 1Rs 19,11s), Jesus passa junto aos seus discípulos. A reação dos discípulos é de medo, susto e espanto, verdadeiro sinal de incompreensão e fraqueza na fé. Se bem que ainda não tinham digerido bem o milagre da multiplicação dos pães e, agora, mais um outro fortíssimo, sinal da divindade do Mestre, que acrescenta "Eu Sou", expressão própria de Deus no Antigo Testamento.
4. O texto que nos permite observar a obrigação missionária da Igreja após a ressurreição de Jesus; missão esta realizada no meio de um mundo em trevas, a fim de resgatar a humanidade. Quando se fala no “anoitecer da barca com os discípulos no meio do mar”, faz uma referência ao tempo da Igreja no meio do mundo, enfrentando toda sorte de indiferença, perseguição e dificuldades para pregar o Evangelho. Os discípulos se encontram cansados, porque a luta é árdua, tudo lhes vem de modo contrário, como se eles estivessem na direção errada, seguindo uma ilusão, pois outras coisas parecem ter mais sentido, mais prazer e atração. Os discípulos só entenderam quem é, de fato, Jesus Cristo depois de Pentecostes. Na força do Espírito e convictos de sua fé, eles enfrentaram todos os poderosos de seu tempo; não temeram entregar suas vidas em nome de Jesus; amaram a Igreja e se entregaram por ela, a fim de que a barca de Pedro pudesse chegar aos confins do mundo. Tal amor a Deus e a sua Igreja deriva diretamente da Fé pascal, da profissão convicta do Senhorio de Jesus Cristo e da ação do Espírito Santo; também do conhecimento da verdade da ressurreição pelos sinais concretos que a indicam, da presença do Ressuscitado e do testemunho das Escrituras.
5. Hoje, mais do que nunca, necessitamos mergulhar profundamente no mistério pascal da nossa fé, descobrir a beleza de ser cristãos, abrir as comportas da nossa vida à ação do Espírito Santo, não temer seguir os ensinamentos da Igreja, enfrentar a lógica do mundo e testemunhar exclusivamente nossa fé no Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Um forte e carinhoso abraço.
Padre José Erinaldo


Nenhum comentário:

Postar um comentário

EXPRESSE O SEU PENSAMENTO AQUI.