A CRUZ DO CALVÁRIO
No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Herodes, tetrarca da Galileia, Jesus subiu a Jerusalém para dar cumprimento pleno à sua missão na Terra, ciente de todos os acontecimentos que mudariam definitivamente os rumos da História.
Após ter sido preso, no Jardim de Getsemâni, e levado ao palácio do Sumo Sacerdote Caifás, onde viria a sofrer todo tipo de injúria e humilhação, ELE foi encaminhado, posteriormente, a Pilatos, que, após interrogá-LO, mesmo sabendo que se tratava de um homem justo, permitiu o derramamento do sangue de um inocente.
Depois do julgamento consumado, colocando-se incondicionalmente nas mãos misericordiosas do Pai e fortalecendo o espírito com constante oração, o Rabi de Nazaré toma a sua cruz e segue, pela Via Dolorosa, até o Calvário. Pelo caminho, ouve, com altivez e calma impressionantes, impropérios e xingamentos da turba multa, incitada pelos fariseus, além de receber vários empurrões e cusparadas. Vergado sob o imenso peso do madeiro, Jesus cai algumas vezes, ferindo-se, nas pedras toscas, pés, joelhos e braços. Ato contínuo a cada caída ao chão, fazendo um esforço supremo, levanta-se, pega a pesada cruz de volta, e, caminha sereno para o destino inglório que o espera.
Na sua última queda, porém, não por solidária compaixão, mas querendo simplesmente cumprir a ordem superior recebida, com a devida agilidade, o centurião romano, que estava à frente da escolta condutora dos prisioneiros, resolve convocar um homem do povo, um camponês forte que ora por ali passava, Simão Cireneu, para ajudá-LO. A contragosto, de início, ele, resmungando acintosamente, obedece ao oficial. Todavia quando os seus olhos encontram momentaneamente o olhar de Cristo, que, mesmo curvado sob tamanha dor e indescritível sofrimento, irradia paz e perdão, passa, doravante, a auxiliar o Mestre com resignação e boa vontade.
Com o rosto inteiramente desfigurado pelas brutalidades que sofrera dos soldados, e, com o corpo inteiro sangrando muito, Jesus, quase desfalecendo, chega, enfim, ao Gólgota. Lá, após ser crucificado ao lado de dois ladrões, ELE, o Cordeiro de Deus, realiza o seu sacrifício sublime de imolação em prol da salvação de toda humanidade, entregando-se nas mãos do Pai.
A Cruz do Calvário é o símbolo maior que deve nortear a vida do cristão – e nos ajuda a robustecer a nossa fé, minimiza as nossas dores, e nos dá significativo alento para prosseguirmos a nossa jornada, apesar dos inúmeros obstáculos e desafios, com estoicismo e reconfortadora esperança.
Se quisermos seguir realmente os passos DELE, é necessário que desenvolvamos um espírito suficientemente elevado que nos permita perdoarmos às pessoas que nos fizeram mal, injustamente, ao longo da caminhada, colocando-nos, muitas vezes, em sérias dificuldades existenciais, comprometendo impiedosamente a nossa saúde, tanto física quanto emocional, curvando o nosso coração diante dos achaques e humilhações mesquinhamente perpetrados, por elas, deixando-nos abatidos e entristecidos debaixo das asas negras das incertezas e angústias da vida.
Convenhamos, não é nada fácil perdoarmos a quem nos humilha, persegue e maltrata sem razão. Ao contrário, isto é algo extremamente difícil e, às vezes, demanda muito tempo para superarmos tanta maldade. Contudo, não há outra forma de branquejarmos a nossa alma e conseguirmos encontrar, finalmente, a serenidade interior que tanto almejamos.
Espelhemo-nos, pois, no exemplo edificante do Filho do Altíssimo que tudo suportou e, por amor, perdoou a todos, exclamando, do alto da cruz, na sua santa agonia: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem”.
Que o Todo Poderoso se compadeça de nós, de nossa gritante miserabilidade e gigantesca fragilidade, e nos dê forças e ânimo para sermos, embora rudes e pequeninos, a luz que possa brilhar na escuridão, afugentando, de nossos corações, as trevas do egoísmo e da indiferença, tornando-nos, a cada dia, seres humanos melhores, artífices comprometidos na construção de um novo mundo que há de vir.
AVELAR SANTOS
A/S CAMOCIM - CE
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