CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

domingo, 1 de setembro de 2024

Essa parábola nos introduz num período que vai desde a ascensão de Jesus até seu retorno no Juízo Final.

 


Essa parábola nos introduz num período que vai desde a ascensão de Jesus até seu retorno no Juízo Final. Outros autores costumam falar do período entre a ascensão e julgamento de Jerusalém no ano 70, com a queda do Templo, realizada pelo general Tito do exército romano. O fato é que Jesus se “ausenta” por um longo tempo, podendo chegar inesperadamente, para um acerto de contas pelos talentos (dons) concedidos aos seus. O talento é uma medida de peso, não precisamente uma moeda. Indicava uma ânfora de 26 kg de água. 5 talentos são uma soma enorme. Aquele que recebe uma quantidade X de talentos é justamente aquele que pode realizar somente aquela quantidade. Suas qualidades devem estar a serviço de tal empenho. Os talentos indicam o dom salvífico de Deus, o qual deve estar ligado às qualidades daqueles que acolhem esse mesmo dom, para a realização da vontade de Deus. Pode-se acrescentar que os talentos permitem a possibilidade de uma vida conforme ao Reino de Deus, à Sua Palavra, à Fé, e aos sacramentos.


 


A parábola centra naquele que recebeu um só talento. É com ele que Jesus dialoga. Os outros aparecem como coadjuvantes. O que aconteceu? Aquele homem de um só talento não quis perdê-lo. Por isso, o enterra. Aqui uma referência à liderança judaica. É como se quisesse viver a Lei pela lei, o que lhe oferece tranquilidade diante da vontade de perfeição de Deus. Tem-se aqui um fechamento ao Messias, Cristo Jesus. Nesse caso, o texto quer frisar a incapacidade de abertura à vontade de Deus por parte dos líderes contrários ao Messias Jesus de Nazaré. Como o objetivo é a salvação por meio do Filho de Deus feito carne, fechar-se a Ele significa rejeição a Deus. Consequentemente, outro não pode ser o resultado senão a condenação. Apegados a si mesmos e ao mundo, esses líderes viviam a lógica do medo do risco de se lançarem na novidade de Deus para além do que eles conheciam, para um patamar desconhecido deles, mesmo que fosse plenitude. O medo de se aventurar pode matar o homem, amansá-lo perante os benefícios do mundo e torná-lo um indiferente às coisas de Deus. Esse é o tipo de pessoa que não tem fé, nem confiança, é desestimulado diante da vontade do Senhor, não possui diligência e só procura viver no comodismo, como trepadeira, às custas dos pais ou dos avós, ou ainda, à mercê de quem o sustente em troca de favores nebulosos.


 


A lógica de Jesus Cristo é outra. Assim como no mundo dos negócios não se pode lucrar sem riscos, o mesmo se dá com multiplicação dos dons de Deus. Cabe a cada pessoa, que se encontrou com Cristo, aplicar-se totalmente na causa do reino de Deus, fazendo de sua vida um verdadeiro dom e, ainda, usando os dons que possui para fazer o bem e levar a mensagem da salvação a todos. Não pode ser discípulo de Jesus Cristo quem só deseja viver no conforto da lei, pensando somente em resguardar a própria vida. É necessário ir ao mundo inteiro, correr grandes riscos no meio do mundo, sem temer as tentações nem muito menos as perseguições. Não existem homens e mulheres perfeitos, mas pessoas limitadas, fracas, porém cheias da graça de Deus, impulsionadas pelo Espírito Santo, para levarem o Evangelho a todo o mundo.


 


Esse é um dos ensinamentos mais avançados de todos os tempos do ponto de vista econômico. Inclusive, pode-se dizer que ele foi responsável pela mudança da estrutura social do mundo grego, pelo fato mesmo de colocar quem está no topo a serviço do bem maior, participando com todos das mesmas lutas e objetivos. Nessa forma de pensar ninguém é escravo de ninguém, mas todos a serviço de todos. Não existem menores e mais imperfeitos, mas seres humanos no combate de todos os dias e todos responsáveis por todos. Não esquecer que “a quem mais foi dado, mais será exigido”. Todos os talentos são pra ser usados, multiplicados, transmitidos. Não interessa o cargo, a missão, a vocação: tudo deve ser aplicado, segundo a lógica do serviço, para o bem de todos.


 


Essa parábola lembra uma cena de juízo. Produz uma reflexão sobre o que fomos capazes de fazer e o que deveremos fazer daqui para a frente. O que fizemos com os bens de Deus? O que podemos ainda fazer? Correremos riscos? Tememos o mundo? Amamos o Senhor ou temos medo dele? O que fizemos e o que faremos com o dom que somos e com os dons que temos? Convém assinalar, antes de tudo, que o primeiro talento é cada um de nós. Deus nos criou como autênticos dons, homens e mulheres criados à sua imagem e semelhança para dizermos sim a Ele e à sua obra, agindo para a transformação do mundo segundo sua vontade. Em seguida, o próprio Deus nos concedeu outros talentos, habilidades, dons, a fim de que pudéssemos exercer a missão recebida com dignidade, santidade e produção de frutos, aqueles esperados por Ele. Como agir então? Lembremos do semeador: ele é consciente de sua missão, tem sementes em abundância, confia absolutamente em Deus, crê de verdade e, despreocupadamente, sai jogando sementes por todos os lados, em todos os tipos de terrenos. 

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