CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

sexta-feira, 8 de março de 2024

Necessitamos de Deus em tudo. Pois então, coloquemo-nos diante de Deus com toda a verdade de nossa vida, esperando NELE absolutamente.

 Evangelho

Naquele tempo, 9 Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10 “Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11 O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12 Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’.

13 O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ 14 Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

— Palavra da Salvação.


Reflexão


1. Um fariseu “quase santo em tudo”. O fariseu tem uma ideia falsa de Deus, julga o publicano, apresenta-se como um cumpridor da Lei, jejua duas vezes por semana além do que se exigia (uma vez por ano), paga o dízimo, é exemplar, é também uma espécie de prestador de contas na oração que faz, compreende Deus como um patrão e exalta a si mesmo. Certamente, trata-se de um aparente homem de Deus. Tudo fazia segundo as normas exigidas pela fé. Era cumpridor assíduo da Lei. Em nada queria ferir a Deus. Era zeloso, dedicado e fiel. A questão é que diante de Deus, no momento de se colocar nas mãos de Senhor, revela-se um prestador de contas, um homem que tudo fazia, possivelmente, também para receber honras e aplausos. Não estava ali para uma intimidade com Deus, mas para contar seus feitos, sua capacidade, sua vitória e ter Deus como um aliado. Era um homem distante de si mesmo. O tempo todo fora de si, isto é, distante da realidade pecadora, da fraqueza pessoal, dos limites que o acompanhavam. Para os outros, aparentava ser um “santo”. Até na oração manifestava sua fraqueza tremenda sem se dá conta do conhecimento de Deus. Então, o que dizia ao Senhor era apenas ilusão. Ele vivia uma falsa religiosidade, apegados aos “enfeites” religiosos, ao culto como lei ritual, mas não conseguia enxergar suas limitações e nem se colocar, misericordiosamente, à disposição dos demais que sofriam toda sorte de rejeição e limitações. Na verdade, nem se via como dom de Deus e nem sabia quais dons possuía para o bem dos que a ele acorriam ou dele dependiam. A hipocrisia religiosa não o permitia perceber para onde Deus estava olhando. Faltava-lhe voltar-se totalmente para Deus e, por causa de Deus, dedicar-se ao bem dos seus irmãos e de todos aqueles em necessidades. Literalmente, esse fariseu não rezava realmente, pois quando exaltava a si mesmo, separava-se dos outros e fechava-se à gratuidade de Deus, afrontava e não atraía o Senhor.

 

2. Um cobrador de impostos, ladrão de verdade. O publicano é realmente corrupto, usurpador, pervertido, ganancioso e explorador. Não se trata de alguém imitável. Nada fazia segundo a Lei de Deus. Do ponto de vista da fé, não tinha zelo algum nem pelas coisas de Deus nem pelas pessoas. Não respeitava ninguém. Em comparação com o fariseu, era um sem futuro, pois aquele procurava respeitar e ter zelo pelo que pertencia ao Senhor. Pois bem, diante de Deus, colou-se segundo sua realidade. Diferentemente do fariseu, compreendia Deus como bondade suprema e, por isso mesmo, humilhou-se. A única coisa que podia oferecer a Deus era a verdade de sua vida e dos seus interesses. Ele não conseguia se ver para além de sua condição pecadora. Em outras palavras, ele não se enganava quanto a si mesmo. Queria apenas que Deus tivesse piedade dele. Nesse sentido, sua oração era verdadeira. Esse colocar-se sincero diante de Deus conduzi-o, certamente, a uma verdadeira mudança de mentalidade, o que lhe permite tornar-se um homem novo capaz de ver nos ritos, símbolos, na liturgia e nas pessoas sinais de Deus e motivação para uma vida imbuída de fé, esperança e caridade.

 

3. Pois bem, o texto não quer mostrar nenhum como modelo na condição de vida. O fato é que ambos estavam ali em oração objetivando a comunhão com Deus, cada um a seu modo e segundo a forma própria de compreensão de Deus e de si mesmo. Não se pode negar que o fariseu, do ponto de vista legal, tinha uma vida perfeita, mas não sabia se colocar diante de Deus como uma criança. Faltava-lhe o reconhecimento da misericórdia divina em ação na sua vida, um reconhecimento de sua debilidade, mesmo praticando as obras da Lei, e a compreensão de que a salvação só é possível por causa da graça de Deus e não pelas próprias forças. A religião sempre foi importante, mas o mau uso dela destruiu pessoas, tornando-as hipócritas e intragáveis. Já o publicano, um fora da lei, descumpridor de tudo, encontrou-se perdido em sua miséria, numa vida contrária à vontade de Deus, soube se postar à disposição da misericórdia. Sabia que nada podia por si mesmo, que não tinha sequer salvação, conhecia suas limitações, mas, ainda assim, insistiu, fez sua oração, esperando somente em Deus, que se agradou da oração dele. Em ambos, então, podemos ver realizadas as palavras do Magnificat: “… exaltou os humildes” (Lc 1,52) e de Mt 23,12: “Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”. Deus acolheu a oração verdadeira do publicano e desprezou a “oração” do fariseu, por se tratar de algo inútil, uma vez que não lhe saiu do coração. A força da oração brota da intensidade de um coração humilde.

 

4. Será que muitas vezes na Igreja hoje nossas escolhas não são segundo o desejo de sermos privilegiados, honrados e aplaudidos? Será que tudo o que fizemos não teve as marcas do louvor pessoal e o desejo do reconhecimento dos homens? Será que não temos a tentação de querer a salvação segundo nossas próprias forças? Será que não trocamos Deus por nós mesmos? Que tipo de imagem tempos de Deus? Será Deus uma espécie de patrão? Enxergamos Deus como Bondade Eterna? Pois bem, somos convidados a reconhecer diante de Deus que tudo o que fizemos ou devemos fazer de bom pertence a Ele; que o bem a ser feito vem por vontade dele; que a nossa parte é uma resposta na força do seu Espírito. Ninguém faz o bem por si somente. É pela graça de Deus que o bem é realizado, que sua Palavra é cumprida, que nos tornamos homens "bons", pois Ele é que é o BOM. Necessitamos de Deus em tudo. Pois então, coloquemo-nos diante de Deus com toda a verdade de nossa vida, esperando NELE absolutamente.

 

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