CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

sexta-feira, 16 de junho de 2017

HOMILIA DESTA SEXTA

Mt 5,17-37
1. Mt procura, de modo apologético, resolver alguns comentários existentes em seu contexto, na sua comunidade, quanto à pessoa de Jesus Cristo. Não havia problema quanto ao fato de se saber que Jesus era o Senhor Libertador, vindo do Pai para salvar. A questão se colocava no confronto entre Jesus Libertador e a Lei de Moisés. Alguns não tinham dificuldade em afirmar a vinda de Jesus, na condição de Libertador, para anular a lei de Moisés e estabelecer uma nova lei, segundo sua convicção, uma vez que O consideravam maior que Moisés. Certamente Ele é maior do que Moisés, mas não inventará outra Lei, pois a que existe não é de Moisés, mas de Deus. Sendo assim, Ele não abolirá a Lei, mas a cumprirá detalhadamente. O texto deixa claro que a Lei será cumprida absolutamente. Outros, por outro lado, queriam a Lei do jeito como estava no Antigo Testamento e não segundo Jesus Cristo. Então, necessario se fazia uma ação de Jesus para mostrar a todos que Ele é o cumpridor da Lei, seu legítimo intérprete. E nesse momento, age como O LEGISLADOR DEFINITIVO da vontade do Pai na história (Foi dito, “Eu, porém, vos digo…”).
2. A verdade é que Jesus não veio, segundo o texto, destruir a Lei estabelecida por Deus. Na verdade, o que Jesus pretende é dar o seu mais profundo significado, conduzindo-a ao seu mais elevado grau de perfeição. Muitos deturpam a Lei, lançando-a no jogo de interesse pessoal, tornando-a como que uma "mão" a seu favor, impõe-na ao outros, a fim de se manter em alguma posição de dominação, apresenta-a como condição de plenitude, mas para si mesmo. Muitas vezes a lei é usada como "mão-de-ferro" para subordinar o outro. Jesus quer a Lei no seu mais genuíno significado libertador. A Lei não escraviza, não cria dependentes, mas torna homens e mulheres livres; ela existe para todos, não para um grupo, uma sociedade, um povo. A Lei de Deus é para todos os homens e mulheres de boa vontade, que se colocam diante DELE de todo o coração.
3. Somente em Jesus Cristo, a Lei de Deus encontra sua plenitude, seu verdadeiro cumprimento, tanto Nele em si, quanto na prática de Sua existência. Em si mesmo, Jesus realiza, com profundidade a vontade do Pai, voltando-se absolutamente para o Abbá. Cristo supera a Lei sem destruí-la; sem negá-la como revelação de Deus, mostra-SE como a REVELAÇÃO ÚLTIMA de Deus, Ele próprio como o TUDO que o Pai quis dizer à criação, aos homens e mulheres de todos os tempos (Mt 17,5; Mc 9,7; Lc 9,35). Ele é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6), ninguém poderá chegar à glória do Pai, prescindindo DELE (cf. Jo 14,6).
4. O que não deve existir é a negação da Lei dada a Moisés. O Antigo Testamento é preparação para o Novo, é a Lei como pedagoga, como base para o futuro, para a Nova e Eterna Aliança. Rejeitar a Lei do Antigo Testamento é o mesmo que arrancar as raízes de uma árvore e ainda querer que essa árvore continue viva; é uma forma de anulação da própria vontade de Deus; é uma interpretação completamente equivocada dos ensinamentos de Jesus, como fez um certo Marcião, talvez uma forma de se pensar uma separação em Deus ou imaginá-LO confuso em SI mesmo, o que é absurdo. Também é contraditório querer viver segundo Jesus Cristo, mas de acordo com o Antigo Testamento desligado do Novo. Convém não esquecer que a Promessa deve ser lida a partir de sua realização, isto é, a partir da Nova e Eterna Aliança. O discípulo de Cristo se volta para o Antigo Testamento de olhos fixos no Salvador. A prática dos Mandamentos, por menor que seja algum deles, dá-se à luz de Cristo.
5. É a partir de Jesus Cristo que o discípulo vai entender o que significa “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”. Antes de tudo, o termo justiça não é empregado na Sagrada Escritura em sentido jurídico (dar ao outro o que lhe é de direito), mas no sentido da realização do plano salvífico de Deus. A justiça dos doutores da Lei e dos fariseus era marcada pelo jogo de interesse pessoal, pelas honras devidas ao mérito, pelo direito de se ter pelo que se fez, resultado da prática da Lei. Aos Seus discípulos, Jesus ordena o reconhecimento da misericórdia, a entrega de si mesmo como dom de salvação para o outro, a descoberta do outro como filho de Deus e, portanto, irmão na mesma pátria, na mesma fé e na missão. Na justiça dos fariseus e doutores da Lei, não havia espaço para os pobres, as prostitutas, os doentes, os possuidos pelo demônio, os coabradores de impostos etc. Todos eram marginalizados. Os intelectuais, os ricos, os sãos, os homens de “família”, esses sim, participavam dos melhores lugares, eram bajulados e considerados filhos de Deus. Jesus não valorizava os pecados das pessoas, mas as pessoas pecadores, sofredoras e marginalizadas. Não somente curou-as e libertou-as do maligno, mas também para elas anunciou o Evangelho. Ele se preocupava com cada pessoa, olhava fixo em cada uma, entrava na sua realidade, sentia com elas, via-as interiormente e com amor, conhecia-as profundamente e sabia da importância delas diante do Pai.
6. Os discípulos foram formados e continuam a sê-lo até hoje na descoberta do ser humano quanto à sua realidade de obra das mãos de Deus e necessitado da comunhão eterna com o Pai. Daí porque um cristão jamais tratará mal um outro, mesmo que ele seja um “estrangeiro”, um pagão, um desconhecedor e até mesmo um perseguidor da fé cristã. Não deve, por motivo algum, matar o outro, encolerizar-se contra ele, chamá-lo de patife ou de tolo. Ou seja, não se deve, por nada neste mundo, tratar alguém mal, desrespeitando-o, desvalorizando-o e ridicularizando-o, pois tudo isso indica uma espécie de assassinato, uma destruição da pessoa. O discípulo, acima de tudo, deve estar atento ao outro, mediante a caridade, que brota de um coração convertido, assinalado pela Palavra de Deus e formado aos pés de Jesus Cristo, totalmente voltado para Ele e, decididamente, entregue à vontade do Pai. Alguém completamente consciente da beleza de ser um verdadeiro discípulo ou uma verdadeira discípula de Jesus, de ser um filho de Deus, de lançar-se na mesma missão salvadora de Jesus, pondo sua vida como um verdadeiro dom. Atitudes, como raiva, ódio, inveja, intolerância, vigança, indiferença, desprezo, discriminação, humilhação e rotulação do outro são abomináveis ao olhos do Senhor e conduzem à condenação eterna de quem as pratica. Os autênticos discípulos são aqueles que, todos os dias, em todos os momentos, procuram identificar-se com Seu Mestre na bondade que O constitui.
7. Jesus conduz Seus discípulos à perfeição por meio do amor. Em Jesus não há espaço para traição de forma alguma, para a anulação do outro em ipótese nenhuma. Amar exige dar a vida, sofrer com e por alguém, não desanimar em nenhum momento da vida. Para ele, o adultério é, antes de tudo, uma traição a Deus, para, depois, ser uma traição ao outro. O adultério é de tal forma condenado por Jesus que basta somente pensar nele, certamente levando-o ao coração, para incorrer na sua culpa. “Eu, porem, vos digo, todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la já cometeu adultério com ela no seu coração”. O mundo, atualmente, precisa, urgentimente meditar essas palavras de Jesus. Em outras palavras, Jesus não admite nada que fira o amor, porque o Amor é divino, é perfeição total. Não se brinca com o amor, não se deve banalizá-lo, pois se trata do que existe de mais belo e mais sagrado. Tudo aquilo que vier como ofensa à uma vida no amor deve ser cortado pela raiz: seja pela visão, pelas mãos, seja por qualquer coisa que lance o ser humana contra si mesmo e contra o outro.
8. Cabe aos discípulos serem homens e mulheres do Amor, da Verdade e da Vida. “Eu, porém, vos digo, não juries de modo algum; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o suporte onde apoia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande rei. Não jures tampouco pela tua cabeça, porque tu não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo”. Em Mateus, os ensinamentos de Jesus exprimem a própria realidade do Mestre de Nazaré, Ele que é a VERDADE. Os discípulos não têm necessidade de jurarem por nada, basta que testemunhem tudo que falam; não coloquem meios-termos; que vivam na corda bamba, que não sejam mornos (cf. Ap 3,15-16), porque serão vomitados. Se viverem da verdade, serão uns para com os outros sinceros e coerentes, homens e mulheres iluminados e iluminadores. Se assim procederem, respeitarão todas as pessoas, não serão jamais inimigos de ninguém, mesmo tendo-os por causa da Palavra de Deus, por serem perseguidos, não serão, jamais, hipócritas, adúlteros e facilitadores do pecado. Na verdade, procurarão viver segundo a vontade de Deus em Jesus Cristo.
Um forte e carinhoso abraço.
Pe. José Erinaldo

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