Lucas mostra Jesus no seu objetivo de ir à Jerusalém, a fim de lá realizar o coroamento de sua missão: morrer e ressuscitar por nós, pecadores. Seguindo seu caminho, passa pela Samaria, uma região de um povo que não se dá bem com os judeus nem estes com os samaritanos, que são uma mistura de judeu com pagãos. Inclusive os samaritanos ficam chateados com a presença de Jesus ali, porque Ele está só passando com destino à Jerusalém. Eles vivem o desprezo dos judeus, que se acham os donos da salvação. Enquanto eles são mais abertos à ação salvífica de Deus, mas sem abandonar, por sua vez, o desprezo recíproco. Jesus percebeu isso e o manifestou na parábola do "samaritano". Agora, entra em cena mais uma vez a figura do samaritano agradecido e representante de uma humanidade que necessita do mais perfeito encontro com Jesus Cristo, para alcançar sua salvação.
2. Dez leprosos vieram ao encontro de Jesus e pararam à distância, gritando. O número 10 dá a ideia de universalidade. É possível aqui pensar em toda humanidade que deve se encontrar com Jesus, único Caminho, Verdade e Vida, e ser liberta de suas mazelas. Esses leprosos, que antes de tudo revelam, na miséria, unidade e solidariedade de uns para com os outros e interesse pela mesma salvação, sendo eles samaritanos e judeus, pararam à distância porque esta é a regra por causa de sua doença, a fim de não contaminar ninguém. Eles devem gritar para os que se aproximam, dizendo que eles têm lepra, a fim de que ninguém se aproxime deles. Eles são isolados, colocados completamente à margem da sociedade, não participam mais de nada, nem mesmo da vida da fé, são excluídos do convívio das pessoas por causa da doença e, como tal, pelo fato de serem leprosos significa, segundo a mentalidade da época, que possuem pecados graves.
3. “Jesus, mestre, tem compaixão de nós”! Aqui se encontra o clamor de uma humanidade necessitada de libertação física e espiritual, sem rumo, sem horizonte e sem futuro; uma humanidade marcada por lepras terríveis, como exploração uns dos outros, escravização do semelhante, desejo de manipulação de grandes massas, satisfação pessoal em detrimento da dignidade do outro, consumismo absurdo, permissivismo, roubos, injustiças, hedonismo, entre tantos outros desequilíbrios. Jesus tem conhecimento de tudo isso, do mar de lamas onde se encontra essa humanidade, das prisões e lepras incuráveis pela simples força do homem. Por isso vem à história, deixa-se envolver com o pecador, permite ser tocado, mistura-se sem medo de contaminação, permite ao outro vir ao Seu encontro. Em seguida, respeitando a instituição divina, manda-os aos sacerdotes, porque são eles responsáveis em reintegrá-los na sociedade depois de perceberem que estão curados (cf. Lv 14,2-7). A Igreja é instrumento da salvação. Ela foi criada para ser presença do Reino de Deus no meio desse mundo. Não se pode ter a Cabeça, Cristo, sem Sua Igreja, Seu Corpo Místico. Não podemos ser de um sem ser do outro.
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