Zumbido foi relatado por 54% dos entrevistados, problema é sintoma de perda da audição
Ao
receber o resultado de uma pesquisa feita com 506 crianças de Lajeado,
no Vale do Taquari, a professora de otorrinolaringologia da USP Tanit
Ganz Sanchez ficou surpresa: 31% deles apresentavam zumbido na audição.
O problema atinge, em média, 20% de todas as pessoas do mundo,
independentemente da faixa etária.
–
Meu queixo caiu. Um terço daquelas crianças tinham um problema na
audição que pode levar à surdez. Quando recebi o resultado me
perguntei: se tanta criança apresenta o problema, como estão os
adolescentes?
A
pesquisa realizada em Lajeado foi feita em 2007. Então, Tanit começou
um novo estudo. Desta vez, analisou crianças e adolescentes de 11 a 17
anos de São Paulo. Os resultados novamente surpreenderam a pesquisadora
e foram publicados na revista científica Scientific Reports, do grupo
Nature.
–
O número de adolescentes que relataram zumbido fez meu queixo cair até
o pé. 93 dos 170 entrevistados falaram que tinham zumbido o tempo
todo, não apenas depois da balada ou de usar fones de ouvido. Quando
perguntei o quanto o problema incomodava, a média foi super baixa. Ou
seja, eles nem percebem que têm o problema – contou.
O
zumbido é um um barulho no ouvido, que pode ser percebido melhor
quando há silêncio. Algumas pesquisas o comparam com um chiado ou
apito. Trata-se de um sintoma de perda de audição, uma vez que indica
que houve uma lesão de células do ouvido. Hábitos como a exposição a
altos níveis de vibrações sonoras, como uma explosão, fogos de
artifício, som alto de um fone de ouvido ou de um show, sobrecarregam
as células do ouvido que podem sofrer lesões temporárias ou
definitivas.
Tanit
foi além da entrevista e levou uma cabine de audiometria para dentro
da escola em que os jovens analisados estudavam. Então, um novo
problema apareceu no exame: os adolescentes que relataram zumbido
também eram mais sensíveis ao som.
– Volumes baixos já incomodavam esses jovens – disse Tanit.
Os
dados são alarmantes, segundo a pesquisadora, porque, para medir a
audição, otorrinos e fonoaudiólogos contam com o relato dos pacientes,
seja em entrevista, seja durante a audiometria.
–
A questão é que os adolescentes relatam que não se incomodam com o
zumbido e, se não incomoda, eles também não falam aos pais e não tratam
o problema. Já estão perdendo a audição. Essa geração tem potencial
para viver cem anos, mas vai ficar surda mais rápido, com 30, 40 anos. –
apontou a pesquisadora.
Balada e fones aceleram o problema
Tanit
explica que os jovens têm se submetido a hábitos de risco sem cuidar
da saúde auditiva. Fones de ouvido e ouvir música alta, como em shows,
podem acelerar a perda da audição, principalmente de jovens que têm
ouvidos mais sensíveis. Mas como saber quem está mais suscetível ao
problema?
–
Se, ao sair da balada, se ouve um zumbido, isso é sinal de
vulnerabilidade. Muitos jovens encaram o fato como algo normal, mas não
é. Não precisa deixar de ir à balada ou de ouvir música nos fones, mas
é preciso tomar cuidado – alerta.
Como proteger a audição
Segundo
Tanit, o ideal é ir a um show ou festa usando tampões. Mas a médica
sabe que os jovens não seguem essa regra. Por isso, adotar o hábito de, a
cada hora, deixar o ambiente barulhento por 10 minutos pode ser uma
medida protetora. O mesmo vale para os fones de ouvido. Além de não usar
o aparelho com volume alto, dar um descanso para a audição a cada hora
pode retardar o problema.
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