Pois bem, Jesus vê a multidão vindo a Ele. Não é qualquer multidão, mas um povo faminto tanto do alimento natural quanto do espiritual; uma multidão de sofredores e de incrédulos ao mesmo tempo. Nos sinóticos, Jesus vê e tem compaixão, aqui, Jo cita somente a iniciativa de Jesus e a certeza do que deveria fazer. Já nos sinóticos, são os discípulos que tomam a iniciativa. O acento joanino é tremendamente cristológico tanto na iniciativa da ação quanto no modo de entender o que se passava com aquele povo. Em Jo são os discípulos que preparam a multidão, mas é Jesus quem lhe dá de comer. Os discípulos preparam, e Jesus concede a graça do alimento salvífico. Um dado importante é o fato de a multidão está VINDO A JESUS. Esse "vir a Jesus" indica também, na atualidade, o povo que procura incansavelmente a casa de Deus, na tentativa de ser saciado de suas necessidades e que devem encontrar os discípulos de Jesus dispostos a conceder-lhe o alimento essencial. O povo continua "vindo a Jesus". A questão é saber se os discípulos atualmente estão realmente com Ele e para Ele.
Jo traz para esse texto duas coisas importantes: uma referência à páscoa judaica e uma referência à ceia. De fato, o modo como é narrada, lembra a celebração eucarística, que já era celebrada antes do escrito joanino. Aquilo que já era vivido pela comunidade cristã é citado no texto. A liturgia precede o escrito do Novo Testamento. Quando é citado, por exemplo, o cuidado com as sobras dos pães, lembra muito o cuidado devido às sobras das partículas eucarísticas. O número 12 lembra a totalidade, a plenitude e universalidade. Nesse sentido, os 12 cestos restantes indicam que esse alimento é para todos.
O povo não entendeu o sinal. Ninguém duvida da ação de Jesus, mas não alcança seu verdadeiro sentido. Esse é o grande problema. Ao vivenciar esse evento, o povo imediatamente ligou Jesus à ideia messiânica de Israel, mas não da forma como Jesus entendia. O povo quis Jesus rei de Israel, um político poderoso, o libertador daquela gente. A esperança política de libertação eclipsou a verdadeira busca pela libertação interior da humanidade. Querer Jesus como libertador político é o mesmo que optar pela continuidade do homem velho, racional, filho das ilusões mundanas. Jesus deseja que cada um, sem medo, O procure como o Libertador, Aquele que livra do pecado, que oferece vida nova, mesmo na dor, no sofrimento cotidiano; Aquele que oferece a verdadeira vida: a vida eterna; Aquele que liberta socialmente, mas como consequência de uma vida convertida, mudada segundo sua graça e seu amor; Aquele que exige, antes de tudo, que o homem se volte primeiro para Deus e, por causa de Deus, para o bem maior do outro seu irmão.
Um forte e carinhoso abraço.
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