Não é suficiente conhecer o mundo inteiro e a ciência dos homens. Não basta conhecer os Mandamentos e ser mestre em Israel ou no mundo grego

 

O conhecimento de Jesus e dos seus ensinamentos se dá na abertura a Ele, às suas palavras e à sua vida. Não é suficiente conhecer o mundo inteiro e a ciência dos homens. Não basta conhecer os Mandamentos e ser mestre em Israel ou no mundo grego ou ainda em qualquer universidade no mundo. Na rejeição a Jesus, tanto as lideranças judaicas quanto os pagãos se afastam mais e mais de Deus e se abismam em uma cegueira tremenda. Os "mestres" do mundo se enroscam nas próprias ideias, enferrujam nos seus limites intelectuais e morrem engasgados nas suas próprias teses, infelizes pelo fato de terem encontrado a verdade. Por outro lado, na medida em que se prontificam, verdadeiramente, a ouvir o que Jesus tem a dizer, certamente passam, não somente a enxergar mais, mas também adquirem a possibilidade da identificação com a Verdade. O contrário também acontece, pois na medida em que se tornam insensíveis aos ensinamentos de Jesus, aumenta absurdamente sua ignorância nos mistérios de Deus e aproximam-se da própria desumanização.

 

Jesus chama Seus discípulos de Bem-aventurados, pelo fato mesmo de “verem e ouvirem” Aquele que foi indicado pelos justos profetas, preparado no Antigo Testamento, e que existe nas promessas direcionadas ao Messias Jesus Cristo. Um exemplo claro é o Simeão, que no momento da apresentação de Jesus menino, exclama: “Agora, Soberano Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque meus olhos viram tua salvação, que preparaste em face de todos os povos, e glória de teu povo, Israel” (Lc 2,29-32). Os discípulos são os pequeninos do Senhor, as ovelhas enviadas para o meio dos lobos, aqueles que colocaram suas vidas e seus sonhos nas mãos de Deus e se deixaram guiar exclusivamente por Ele, apesar do medo, das dificuldades pessoais e externas.

 

Os judeus fixam-se na atitude de recusa a Cristo e à Sua Igreja; tornam-se indiferentes a Jesus e às Suas realizações; não se permitem adentrar no mistério dos ensinamentos do Nazareno. A incredulidade lhes fechou a alma para Deus. As multidões, por sua vez, interessadas na saciedade de suas necessidades, não penetravam no conteúdo substancioso da pregação de Jesus; negativamente se comportavam diante da mensagem salvífica; havia da parte delas uma busca por Jesus e uma rejeição a Ele ao mesmo tempo: uma busca pelo que lhes interessava, e uma rejeição ao que Ele realmente queria para elas. Para ser sincero, havia, tanto da parte de judeus quanto de pagãos, uma forte indiferença à mensagem ensinada por Jesus. A ela, eles fecharam seus olhos e ouvidos, não importando senão os milagres, que serviam de sinais para alguns.

 

Jesus, vivenciando um insucesso missionário, revela, mais claramente, os segredos do Reino aos Seus discípulos: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado”. Jesus prepara Seus discípulos para uma grande missão: levar as Bem-Aventuranças a todos os povos; fazer cumprir a Lei de Deus segundo o significado dado pelo próprio Deus e não segundo as concepções humanas; colocar em prática a vivência do amor até as últimas consequências; e inverter a lógica do mundo, pondo em relevo a lógica do esvaziamento de si para o bem do outro. Realmente, judeus e pagãos não entenderiam, como muitos não entendem até hoje, tal ensinamento, que é abraçado amorosamente por quem é verdadeiro discípulo ou autêntica discípula de Jesus. Como solos férteis, os discípulos apresentam disposições para o entendimento dos ensinamentos do Mestre, enquanto os outros seguem por estradas inférteis, isto é, experiências espirituais inibidoras do encanto e da compreensão da Palavra de Deus.

 

O Semeador age despreocupadamente. Enquanto semeia, parte das sementes cai em diversos tipos de terrenos. O ato de semear é livre, despreocupado, decisivo e confiante. O ato de semear pode ser atribuído a Deus, a Cristo e a cada discípulo. O semeador age de tal modo que cada terreno ou, mais precisamente, cada ser humano, na liberdade que possui, assumir aquela semente e lutar por ela a qualquer custo ou, simplesmente, rejeitá-la, ou ainda, até querer lutar por ela, mas não com tanto esmero, deixando-a morrer. O importante é que quem semeia, faça-o com total convicção e destemor, desprendimento e obediência à vontade de Deus.