Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 47 "O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48 Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49 Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, 50 e lançarão os maus na fornalha de fogo. E ai, haverá choro e ranger de dentes. 51 Compreendestes tudo isso?" Eles responderam: "Sim". 52 Então Jesus acrescentou: "Assim, pois, todo mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas". 53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.
— Palavra da Salvação.
Reflexão
Essa parábola se encontra somente em Mt e se assemelha muito à parábola do trigo e do joio. Também, no geral, mostra a paciência de Deus e a impaciência de quem deseja que tudo seja transformado a todo custo. Deus respeita o tempo dos homens. O contexto faz referência ao final de uma jornada de trabalho. Para os pescadores não existe outro objetivo senão de pegar muitos bons peixes. O pior acontece quando não pegam nada (cf. Jo 21,3). A referência aos “peixes bons” quer significar homens e mulheres que procuram, no seu dia a dia, fazer a vontade de Deus. São aqueles que colocam Deus em primeiro plano, aqueles que estão sempre na visão do Senhor. Por outro lado, os “peixes maus” indicam aqueles que, desprezando a vontade de Deus, entregam-se aos seus próprios desejos, seus ideais e, ainda, além de agirem contra si mesmos, fazem de suas vidas instrumentos de transtornos para os demais, causando-lhes males terríveis. Os ditos “peixes maus” são também aqueles que praticam toda sorte de inveja, discórdia, maledicências, divisões, egoísmo, corrupção e exploração dos seus semelhantes e da natureza.
O texto responde qual será o resultado para quem vive fazendo o mal: a fornalha ardente, imagem tirada do lixão da cidade, onde se queima continuamente os detritos; há ali um fogo permanente para se queimar tudo. Em Israel, é um vale chamado GEENA, onde, na época dos reis, havia uma fornalha até para sacrificar aos falsos deuses, como Moloch, por exemplo. Tal imagem indica o inferno, estado de quem desprezou o bem, de quem abandonou a Palavra de Deus, daqueles que fizeram opções por si mesmos. O fogo ardente se torna símbolo de exclusão e de condenação. No final, o que acontece aos que abandonaram a vida em comunhão com Deus é o resultado de uma autoexclusão, de um abandono a si mesmo. Deus não exclui ninguém e nem deseja que isso aconteça, mas respeita a liberdade de escolha de cada um. Negar que exista condenação significa negar a própria liberdade de escolha. Deus nos fez livres para dizer sim a Ele, mas infelizmente o não foi acrescentado pela limitação humana. O inferno não é, certamente, um fim, pois nosso único FIM é Deus. FIM no sentido de objetivo supremo, finalidade de nossa existência.
O inferno não é um lugar, mas um estado de alma; é uma situação que não será desfeita na vida daquele ou daquela que, livremente, desprezaram a salvação oferecida por Deus; não é um fogo material, mas um queimor na alma, uma angústia sem medidas, uma solidão desesperadora, uma profunda falta de sentido, um vazio sem limites, uma vontade de morrer absurda sem condição nenhuma de morte, um ódio tremendo a si mesmo, mas sem condições de autodestruição.
Quanto ao doutor da Lei, comparando-o ao pai de família, Jesus ensina que a educação dos filhos se dá mediante a transmissão de tudo aquilo que os pais aprenderam de bom na vida. Os filhos aprendem com a sabedoria dos pais. O mesmo deve ser feito pelos doutores da lei. Eles estudaram a Lei de Deus, aprenderam a verdade sobre Deus a partir do AT, são especialistas nas Sagradas Escrituras do AT. Devem eliminar tudo isso depois do encontro com Jesus? Não é isso que Jesus deseja. Pelo contrário, devem conceber todo seu aprendizado como preparação para o NOVO que acabaram de conhecer, a fim de entenderem melhor o NT e seguirem firmes, bem enraizados com as coisas “velhas e novas”, isto é, com o Antigo Testamento e a realização dele no Novo Testamento, por meio de Jesus Cristo que, uma vez encontrado, não despreza a Lei e os profetas, mas os conserva e os plenifica na continuidade do projeto de Deus realizado absolutamente em Cristo.
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